O renomado portal de música Pitchfork recentemente publicou uma matéria que destaca a influência do Paramore/Hayley Williams nas artistas da atualidade, como Olivia Rodrigo e Willow.
“A influência do Paramore é sentida por um novo grupo de artistas que navega na turbulência da juventude, quando cada coração partido e contratempo pode parecer apocalíptico.”, comenta.
Acompanhe abaixo a matéria traduzida!
Na sua música “Favorite Band”, a cantora e compositora de 18 anos, Chloe Moriondo, tem uma epifania. Por que, ela se pergunta, ela está desperdiçando seu tempo com um cara patético quando ela poderia estar “em casa com os fones e o Paramore” (“at home with my headphones and Paramore”). Então, com a voz carregada de anseio, ela declara sua lealdade de forma ainda mais clara: “E a Hayley me entende/de um jeito que você nunca entendeu” (And Hayley just gets me/The way you never did”).
Desde seu estouro com Riot! de 2007, Paramore, liderado pela vocalista Hayley Williams, tem usado uma combinação consistente de honestidade emocional, otimismo e acordes afiados de guitarra tanto para espelhar como para esmagar o mundo cheio de muralhas da raiva adolescente. Há alguns anos, o som e o espírito da banda encorajaram roqueiros indies como Snail Mail e Soccer Mommy a pegar as guitarras e o rapper Lil Uzi Vert referiu-se a Williams uma vez como “a melhor… da minha geração”. Agora, a influência do Paramore é sentida por um novo grupo de artistas que navega na turbulência da juventude, quando cada coração partido e contratempo pode parecer apocalíptico. Além de Moriondo, o estilo da banda pode ser ouvido no atual n.º 1 de Olivia Rodrigo, o sucesso divertido e cheio de atitude “good 4 u“, a batida do Hot Topic de Willow Smith, “Transparent Soul“, a bênção diária de girl in red, “Serotonin“, e as “viradas de olhos” cáusticas de Billie Eilish. O fato destes artistas terem uma média de 5 anos e meio quando Riot! foi lançado apenas confirma o poder de se manter relevante que o Paramore tem – e o papel de Williams como uma mãe sábia do pop-punk.
Conforme o estilo musical do Paramore evoluiu do mall-punk para o New Wave, as músicas da banda sempre encorajaram os ouvintes a responderem qualquer um que os fizesse se sentir pequenos. Essa atitude nasceu provavelmente da necessidade: Williams cresceu como uma mulher rara numa cena emo dominada por homens, cheia de misoginia e violência sexual, e foi forçada a construir uma armadura forte para si mesma. “Raiva foi o meu meio por muito tempo”, Williams contou para a Vulture ano passado. “Quando se trata do que está por baixo dessa raiva, é uma merda assustadora”. Agora, aos 32 anos, a mulher que uma vez falou que “Segundas chances, elas não importam, as pessoas nunca mudam” (“Second chances, they don’t ever matter, people never change”) está priorizando delicadeza, aceitação e resiliência, como podemos ouvir nos seus dois álbuns mais recentes.
A esta altura, a trajetória de Williams oferece tanto um conto de cuidados quanto roteiro para jovens mulheres aspirando para entrar na indústria da música que evolui nos últimos 15 anos, mas ainda sofre com um cenário sexista de dois pesos e duas medidas. Pela parte de Williams, depois de passar tanto tempo sendo a única garota em turnê, ela faz questão de convidar artistas femininas e LGBTQ+ com a mesma forma de pensamento, incluindo Jay Som e Julien Baker, para turnê junto com o Paramore.
Além dos problemas com representação, Williams também tem sido honesta sobre sua experiência na indústria e nas formas como crescemos e mudamos como humanos. Quando Billie Eilish recentemente compartilhou “Your Power”, uma balada que a cantora de 19 anos contou à British Vogue que era “uma carta aberta para as pessoas que tiram vantagem – principalmente homens”, Williams ofereceu uma nota de apoio. “Queria que eu tivesse ouvido a música nova da Billie quando tinha 19 anos”, ela tweetou. “Mensagem poderosa para uma pessoa jovem, brilhante e talentosa cantar sobre o abuso que ocorre todos os dias, especialmente dentro da indústria criativa. E ela fala sobre isso com graça. Enfim, a música é muito boa”.
Muitas dessas artistas estão começando suas carreiras de um lugar de relativa vulnerabilidade, coisa que simplesmente não estava disponível para Williams, que uma vez comparou tocar na Warped Tour com ser “jogada na jaula dos leões”. A cantora, compositora e produtora norueguesa Marie Ulven, a girl in red, e Moriondo entram nos detalhes íntimos de suas vidas – sexualidade, saúde mental e decepções – de forma honesta e direta. Em “Serotonin”, girl in red se equilibra entre os sons alegres enquanto descreve os pensamentos intrusivos que ela tenta dispersar; o álbum mais recente de Moriondo, Blood Bunny, lançado pela gravadora de longos anos do Paramore, a Fueled by Ramen, inclui músicas pop-punk para cantar junto aos berros e uma coisinha contagiante chamada de “I Eat Boys”. “Sim, eu os faço sangrar” (“Yeah, I get them gory”), Moriondo descreve na música, “Você não pode me controlar porque eu escrevi essa história” (“You can’t control me, ‘cause I wrote this story”). Soa exatamente como o tipo de música que Williams teria gostado como adolescente.
A “família escolhida” sempre foi uma ideia fundamental por detrás da Paramore: a própria banda se formou em meio a fratura da própria unidade familiar de Williams, e ela falou sobre a luta para manter o grupo unido através de uma miríade de mudanças na formação principal da banda. A insistência obstinada de Williams em encontrar comunidade através da música é uma das razões pelas quais a música dos Paramore parece ser um abrigo para os marginalizados. Willow revelou recentemente que foi intimidada na escola por ouvir Paramore e My Chemical Romance, uma crueldade que foi exacerbada pela grande representatividade branca no cenário emo (houve muitos artigos excelentes sobre a relação especial entre Paramore e os seus fãs negros que apontaram para a ênfase da banda em comunidade, fé e políticas de identidade progressistas). Willow continuou a dizer que espera que a sua presença como jovem negra tocando no cenário mais do rock seja inspiração para qualquer pessoa que se sinta excluída pelo emo ou hard rock: “é real, você não está sozinha. Não é a única garota negra que deseja poder virar o cabelo para o lado e usar delineador preto”.
A evolução de Paramore e a sua influência pode talvez ser melhor percebida em “good 4 u” de Olivia Rodrigo. A canção lembra muito o sucesso de 2007 do Paramore, “Misery Business“, que Williams co-escreveu quando tinha 17 anos. Em 2018, porém, a banda anunciou que deixaria de tocar a canção ao vivo por causa do seu sexismo internalizado: com passagens como “uma vez uma puta, você não é nada mais” (“Once a whore, you’re nothing more”), reflete a mentalidade de uma cena (e cultura) que envergonha e coloca as mulheres umas contra as outras. Mas enquanto “Misery Business” direciona o seu veneno para a menina que Williams acredita ter roubado o namorado, “good 4 u” coloca a culpa no homem que seguiu em frente de forma suspeita e fácil. Quando Rodrigo canta “Que se ferre isso e que se ferre você/Você nunca será magoado do jeito que você sabe que eu estou” (“Well screw that and screw you/You will never have to hurt the way you know that I do”), ela dirige-se diretamente a pessoa que lhe partiu o coração, não gerando danos colaterais.
“Espero que o que quer que eu faça, se eu fizer algo nesta vida, é que eu impacte alguém, especialmente mulheres jovens, de alguma forma”, disse Williams uma vez. Agora, mais do que nunca, essa ambição está se tornando realidade.
Tradução e adaptação: equipe do Paramore BR | Fonte