Hayley Williams, agora em seu projeto solo, deu uma longa e profunda entrevista ao The Recording Academy Grammy Awards em que fala a respeito de seu período pré-consolidação do álbum de estreia, Petals For Armor, as influências da última era do Paramore nele e sobre seu processo de tratamento de depressão. Leia a tradução na íntegra!
Nos últimos dias, nada está indo como esperado, especialmente para Hayley Williams. A vocalista do Paramore, ganhadora de GRAMMY, está presa em casa em Nashville cuidando de uma casa cheia de plantas, seu cachorro de olhos brilhantes, Alf, e os lançamentos praticamente semanais de singles do seu álbum de estreia solo, “Petals for Armor”. Com o lockdown na quarentena intensificando sua mente já isolada, Williams tem muito tempo em mãos para se estressar com o lançamento de um álbum que ela nunca nem planejou fazer em primeiro lugar.
Quando conversa sobre isso em um telefonema no meio da semana, ela suspira e ri simultaneamente. “Tempos esquisitos”, ela diz. “Hoje estou na TPM, mas estou bem. Está tudo bem. Está tudo muito bem!”. Geralmente, uma série de garantias como essa poderiam soar como autodepreciativas ou irônicas. Para ela, nesse momento, soa como honestidade.
Para começar, Williams não tem mais nada para esconder. Depois de concluir uma série de turnês de “After Laughter” do Paramore e se divorciar do seu parceiro de longa data, ela voltou para casa apenas para descobrir que era hora de dar atenção aos seus problemas como depressão e ansiedade mais formalmente. Através da sugestão da sua terapeuta, ela começou a escrever músicas como forma de diário musical. Os resultados foram apaixonados e transparentes, o tipo de faixas onde energia crua pulsa através delas e Williams percebeu que ela havia, não intencionalmente, criado uma lista de músicas que valiam a pena serem compartilhadas. Os seus colegas de banda sugeriram que ela transformasse isso em um álbum solo propriamente dito. Como uma artista que assinou com uma grande gravadora aos 14 anos onde ela estabeleceu que só gravaria músicas com seus amigos como uma banda, não como uma adolescente popstar, a ideia pareceu inconcebível – cada música que ela escreveu pelos últimos 15 anos havia sido lançada através do Paramore, exceto algumas colaborações únicas – até que ela decidiu dar uma chance e ver no que dava. Quando você é Hayley Williams, uma história de origem não intencional pode resultar em um álbum pop tão diversificado criativamente e empaticamente recompensador quanto esse.
Para coincidir com o lançamento de “Petals for Armor” hoje, Williams falou com a Recording Academy sobre aprender a confiar na intuição do corpo dela, tentar fazer amigos na vida adulta e estabelecer limites nas redes sociais.
Petals For Armor abre com uma análise certeira de que “Raiva é algo silencioso”, o que reaparece mais tarde no álbum também. Em conversas culturais, a raiva sempre é tratada como algo físico, visível, barulhento e nunca como algo discreto ou escondido. Olhando pra trás, você se lembra da primeira vez em que realmente se sentiu dominada pela raiva?
Oh, uau. Meu Deus. O quão profundo a gente quer deixar isso? Eu acho que senti isso em algumas diferentes vezes desde muito pequena. Quando você cresce, você aprende a articular alguns desses sentimentos de novos jeitos. Pra mim, em meus primeiros anos, eu me isolei muito, eu estava muito confusa quanto ao divórcio dos meus pais e eu acho que estava confusa com o segundo casamento da minha mãe e o abuso que aconteceu ali. Eu não presenciei isso tanto quanto eu senti. Foi um momento muito desconfortável da minha vida. Pra mim, o jeito que a raiva se manifestou foi como um calor em meu corpo, quase como um apagão onde eu não me lembrava dos últimos momentos. Você meio que dissocia de um jeito que não parece muito estranho até que você envelhece e, em retrospecto, você percebe que seu corpo estava tentando te dizer algo.
Com certeza. Por qualquer razão que seja, parece que eu cresci sem realmente sentir muita raiva. Eu ficava triste ou frustrada, claro, e certamente conversava sobre com meus amigos e família. Mas eu nunca senti uma raiva genuína até meados dos meus 20 anos e vivi essa percepção total de, ‘Oh uau, as mulheres sofrem com tanta coisas horríveis que os homens, felizmente, não precisam passar, e nós devemos apenas lidar com isso, pra acompanhar todo o mundo apesar de ter dificuldades únicas”. É estranho perceber há quanto tempo você tem carregado uma raiva silenciosa antes dela finalmente borbulhar.
Sim, eu concordo com todo o meu coração. De certa forma, eu esperava que houvesse algum jeito para que eu entendesse o que estava acontecendo com meu corpo e minha cabeça. Mas ao mesmo tempo, você precisa se perguntar, sabe, nossos corpos são tão inteligentes e talvez eles estivessem nos protegendo de algo que a gente ainda não estava preparada pra sentir, de qualquer forma que isso aparentava pra gente. Agora que estou mais velha, e agora que você está mais velha, você reconhece isso. Espero que isso tenha nos ensinado algo que nos ajude a seguir em frente e crescer. Em alguns dias, porém, eu sinto que eu não aprendi nada.
Enquanto eu escutava esse álbum, eu fiquei pensando em muitos artistas que cantam sobre sua raiva e depressão, especialmente nos anos 90 com Fiona Apple e Alanis Morissette, e como isso definiu suas carreiras quase ao ponto de redirecionar suas próprias narrativas. Para muitas mulheres que eu conheço, vejo isso se resultar em um impulso de ser meio, “Não, eu não sou como elas. Eu sou uma tomboy*. Eu não deixo minhas emoções me consumirem”. O que essas artistas estavam abordando, porém, é verdadeiramente como suas experiências pessoais se transformam em um desejo maior de justiça e uma igualdade há muito esperada.
Felizmente as pessoas tem muito mais espaço e empatia e compreensão agora para esse tipo de coisa. Pessoas como Fiona Apple ou Alanis Morissette — e a questão sobre a Alanis é que ela teve um momento enorme nos anos 90 que foi definitivo para as mulheres no rock e na música alternativa — foram repentinamente aceitas e então imediatamente afastadas. Essa aceitação momentânea que todas nós tivemos culturalmente por alguém como Alanis Morissette definitivamente desvaneceu para esse medo de mulheres histéricas. Nossa raiva pode ser tão facilmente mal interpretada como histeria. É tão simples ou tão traiçoeiro quanto alguém falar algo como, “Bom, você está de TPM?”. E você sabe, isso não precisa ser ofensivo porque, sim, às vezes eu estou de TPM e eu quero arrancar a sua cara. Mas outras vezes, nós deixamos essa ser a razão pela qual mulheres não devem ser levadas a sério quando o assunto são nossas emoções. Seu ponto é muito, muito válido. Elas estavam falando sobre muito mais do que a raiva. Raiva é apenas a tampa, é só a superfície de sentimentos muito mais melosos e viscosos que são difíceis de explicar — e é por isso que a raiva é nossa primeira escolha. Ela cobre as inseguranças e outros sentimentos que são difíceis de serem explicados.
Como você definiria a sua raiva aqui? E por que você sente que está sendo ouvida agora que você dividiu um pouco disso através desse álbum?
Hm. Eu acho que ainda existem manhãs onde eu acordo e estou um pouco ansiosa sobre certas coisas que menciono no álbum. Hoje sai o single “Dead Horse” e eu acordei animada porque é algo novo a se lançar para o mundo como uma criança, sabe? Mas eu estou muito nervosa porque eu não tenho controle da percepção dos outros, nunca. Não importa o que você faça, você simplesmente não tem esse controle. Você apenas pode falar honestamente sobre suas experiências e escolher se você vai ou não ampliar isso e deixar o mundo entrar. Pra mim, é minha natureza porque eu tenho lançado álbuns há tanto tempo já — sabe, isso é o que eu faço, isso é como eu completo meu ciclo de cura e expressão — mas tem sido intenso e incrível sentir que eu estou basicamente fazendo justiça a mim mesma do meu jeito. É muito particular e muito, muito pessoal. As coisas que eu falo no primeiro EP tem muito a ver com o trauma geracional e o abuso que tinha na minha família por muitas gerações. Eu não tinha ciência disso do mesmo jeito que eu podia ouvir, como um baixo zumbido de fundo, até que eu pude dar nome a isso e fazer perguntas diretas à minha mãe sobre essas coisas que ela viveu e que basicamente toda mulher no lado dela da família viveu também.
Eu tenho um senso de alívio e eu tenho orgulho disso, mas vem com um conhecimento de que não é todo mundo que vai entender isso quando escutar ao álbum. Tipo ontem, eu fiz um post bem passivo-agressivo que me fez achar graça no fato de que tem muito homem na internet tentando fazer mansplaining [quando o homem explica algo óbvio à mulher como se ela não soubesse] sobre como eu deveria lançar o meu álbum quando eles provavelmente nunca fizeram um álbum na vida deles. Você recebe respostas bem polarizadas. Você vê pessoas te aplaudindo e então você recebe, “Oh, cara, ela é uma odiadora de homens agora”. E honestamente? Sim! Talvez ambos! Talvez eu seja tudo isso e todos os tons e sombras que existem no meio. Esse é o problema com qualquer tipo de domínio público. Você está permitindo que as pessoas te definem e você meio que está dando consentimento a isso. Eu não posso direcionar isso, mas eu certamente ainda estou nisso e quero me expressas dessas formas.
Falando sobre “Dead Horse”, você está cavando fundo em suas experiências passadas neste álbum de uma forma muito transparente. Eu sempre achei que uma das tragédias mais comuns da vida é quando as pessoas se sentem presas em um relacionamento que não se encaixa, seja um relacionamento emocionalmente abusivo, mentalmente desgastante ou apenas profundamente tedioso. Parece que seu casamento foi uma desilusão ao seu máximo, mas você tentou fazer render frutos apesar de tudo. Quais foram alguns dos sinais que fez você perceber que o relacionamento já não era mais certo? Uma vez meu amigo me disse que o momento que eles perceberam que não estavam mais apaixonados foi quando eles não apreciavam mais o cheiro um do outro.
Sim, isso é tão real. É bem animalesco, não é? Mas é tão real. É um ótimo jeito de começar qualquer resposta que eu possa dar sobre isso. Nossos corpos não mentem. Eu não sei se é cultural, mas ao longo do tempo, quem nós somos no dia de hoje é bem desconectado de nossos corpos. Nós somos afastados de nossos instintos animais. Eu acho que tem algo sobre o fato de duas pessoas estarem próximas uma à outra e existe algo agradável sobre o cheiro de outra pessoa e é tão… Quero dizer, eu acho que o único motivo que parece constrangedor e bobo falar sobre isso é porque nós estamos desconectados de nossos corpos. Para mim, o que eu notei foram anos. As coisas não estavam certas. Não havia uma congruência entre minha mente, meu coração, meu espírito e meu corpo. Isso não é para dizer que eu sou um ser evoluído, um ser humano perfeitamente equilibrado agora, porque eu não sou, mas eu consigo analisar agora, desacelerar e perguntar, “O que isso significa pra mim? Como eu realmente me sinto sobre isso e não negar verdades óbvias?”. Meu estômago apenas doía o tempo todo. Doía o tempo todo. Eu não sei como explicar de outro jeito. Eu não me sentia confortável e ainda assim eu sentia que devia algum senso de normalidade e que também devia à minha família ou ao mundo. Eu tentei criar isso me acomodando a algo que no final não parecia certo.
Mas é de quebrar o coração pensar que nós precisamos fazer isso. Eu sou do sul e existe toda essa ideia sobre o que a igreja diz que é certo e errado, e como nós vemos o casamento por uma visão religiosa. Eu não me inseri nisso. Eu não acho que você pode aderir a todas essas regras e ser uma pessoa saudável e uma pessoa boa. Olha, eu acredito que o amor seja difícil. Amor é uma escolha que nós seguimos fazendo. Eu estou casada com o Paramore desde os meus 13 anos e tem sido uma mega montanha-russa mas eu estou aqui pra isso e eu colho os benefícios emocionais desse comprometimento que eu fiz. Eu sei que é possível manter relacionamentos. Meus avós estão junto há 55 anos. Eu vejo isso no mundo e eu sei que é real, mas eu não tive isso e tentei forçar para que fosse desse jeito.
Eu um entrevista à New York Times, você disse que estava “com medo de perder o acesso à [sua] tristeza” em certo momento. O que existe nesse vazio que parece alarmante?
Eu não estou fazendo uma declaração geral sobre todo mundo, mas pra mim, pra minha personalidade, pra minha identidade, eu realmente gosto da beleza romântica e trágica. Eu encontro muito conforto em histórias como essas, em narrativas distorcidas, e que trazem significado e profundidade pra mim em um mundo que, se tudo fosse perfeito e ensolarado, seria tão tedioso e desencantador pra mim. Tudo seria muito brilhante. Eu realmente quero tratar a minha depressão e levar isso a sério. Eu estava bem fazendo terapia, mas quando chegou no momento de considerar tomar medicação, foi minha única hesitação. Eu quero passar pela vida escrevendo e me expressando. Muito disso vem da dissonância que eu sinto. O que vai acontecer quando a medicação anestesiar tudo? Eu ouvi amigos meus falarem sobre isso com medicações para TDAH ou depressão. Para pessoas criativas, essa é uma preocupação muito válida. Existe um argumento sobre você não precisar estar triste para fazer arte. Eu acho que acredito nisso, mas eu também sinto que eu preciso acessar todas as minhas emoções para poder viver. Até agora, o que eu estou tomando me faz sentir que eu ainda fico depressiva, mas a diferença é que eu não sinto mais que a depressão é a minha identidade. Eu não me sinto presa à cama como se eu não fosse mais querer levantar. É um meio-termo estranho. Eu ainda estou tentando entender, mas eu estou grata que eu decidi tomar uma atitude quanto a isso.
Muitas vezes você ouve as pessoas dizerem que a parte mais difícil de lidar com qualquer problema é entender que é um problema em primeiro lugar, mas acho que a parte mais difícil é entender que você precisa de ajuda pra resolver isso, que é irrealista tentar resolver sozinho. Baseado nas suas letras anteriores, você sempre pareceu muito aberta sobre lutar contra a depressão. Então o que mudou? O que ajudou você a perceber que entrar em um retiro terapêutico para a sua depressão era uma tentativa válida?
Oh, cara. Uau.
Nós podemos pular essa se você quiser!
Não, está tudo bem! Essas são conversas que eu gosto de ter, eu só normalmente tenho elas na minha cama ao telefone com algum amigo ou a minha mãe. Acho que estou bem pra responder isso. Então, quando nós chegamos em casa depois do After Laughter, a vida estava muito melhor do que antes do After Laughter — ou pelo menos parecia. Eu estava ocupada há anos: fazendo turnê, passando um tempo com meus amigos no palco toda noite, passando um tempo com eles no camarim, fazendo coisas legais como ir a um show da Broadway e ver o Japão. A vida era sensacional. E então você chega em casa.
Eu sentia muito a falta de casa, mas eu cheguei aqui e estava tudo tão quieto e calmo e não tinha uma agenda, nenhuma data no futuro distante. Era bem sóbrio. De repente eu não tinha nenhuma companhia a não ser a minha, a não ser que eu quisesse ser excêntrica e sair toda noite como se eu estivesse no início dos meus 20 anos. Eu apenas percebi que precisava lidar com algumas coisas. Eu precisava entender meu cachorro e se eu ia conseguir tomar conta dele o tempo inteiro agora que não estou em turnê 75% do meu tempo. Eu precisava caçar mais o que fazer na minha casa e tentar fazer os ajustes necessários para torná-la habitável no dia-a-dia. Mas eu também queria estar em um relacionamento. Eu queria poder namorar, poder viver uma parceria, e fazer isso de forma saudável — mas estava tão longe de estar saudável que eu continuei a sabotar qualquer boa oportunidade de qualquer relação, mesmo. Essa é uma das primeiras letras que eu escrevi para o álbum, na verdade. Em “Why We Ever”, eu falo sobre eu tentando sabotar essa ótima relação. É eu sendo meio “Ok, eu estou pronta pra seguir em frente na minha vida de mulher adulta e humana. Eu não vou cometer os mesmos erros que cometi antes, blah, blah, blah”, mas então eu fiquei ultra-vigilante e precisei voltar ao início para entender o porquê. Foi isso que eu fiz. Eu percebi que a minha depressão atinge qualquer pessoa que se importa comigo. Não é somente sobre eu chorando no fundo do ônibus depois de um show. É a vida real, e eu quero ser parte disso e ser a parceira de alguém, então eu preciso tomar responsabilidade por mim mesma.
Deus, essa foi uma resposta longa. Desculpa. Eu acho que é porque eu não falei sobre isso de verdade e é um pouco difícil.
Oh, é um processo muito longo se conhecer, ainda mais explicar isso a alguém. Existe algum exercício ou frases da terapia que você leva consigo mesma?
Eu fiz um tipo de terapia chamada EMDR (Dessensibilização e reprocessamento por movimentos oculares), o que eu ainda não tenho certeza se é algo que muitas pessoas entendem, ou se sabem o quão obscuro é. Mas eu estou nisso há um ano e meio, indo e voltando. Não é algo que você deve fazer o tempo todo porque é muito pesado. Me ajudou a voltar a memórias que, agora adulta, eu provavelmente vejo de um jeito muito diferente de como eu vivi aquilo quando criança. É sobre poder se confortar e se proteger. Foi daí que surgiu a frase em “Simmer”: “Nothing cuts like a mother [Nada corta tão bem quanto uma mãe]”. Minha mãe, aliás, é uma mulher fantástica, forte e insanamente independente. Ela passou por tanta m**** e saiu tão forte de todas elas. Mas em certo momento, nós precisamos aprender a ser mães de nós mesmas. Essa foi uma das maiores lições pra mim: ela não pode sempre me dar a segurança que preciso. Ela estava lidando com as próprias m****, não que era culpa minha ou até mesmo dela. É apenas como a vida segue. Nós precisamos aprender a cuidar de nós mesmos. De muitos jeitos, eu ainda estou aprendendo a como fazer isso. A noção básica de como isso funciona é um pouco mais confortável pra mim agora. Eu tenho sido capaz de trabalhar umas m**** mais traumáticas por conta disso.
Petals For Armor é dividido em três seções, e você pode ouvir as mudanças musicais e líricas ao que cada terço se inicia. Soa quase como diferentes estados do processo de cura. Isso foi intencional?
Não foi intencional, mas eu acho que é porque a cura de qualquer tipo de trauma, vício ou qualquer coisa é universal. É como escrever sobre amor pode ressoar com experiências de diversas pessoas com amor porque é algo universal que todos vivemos. Eu não tinha essa intenção enquanto eu escrevia, mas eu sabia que eu ia separar. Eu podia sentir como as músicas do começo do processo pareciam mais obscuras e pertenciam a uma mesma estética. De muitas formas, eu sei que é idiota responder qualquer pergunta assim em uma entrevista, mas apenas aconteceu. Pareceu que era pra ser assim. Fosse eu escrevendo com o Joey [Howard], o baixista de turnê do Paramore que é incrivelmente talentoso, ou no estúdio com o Taylor [York], as coisas apenas surgiram e fizeram sentido. Eu sabia que elas estavam certas assim que surgiram. Eu precisava colocar pra fora pra manter o espaço livre.
O After Laughter tem uma mudança tão colorida e vibrante para o Paramore. Esse álbum agiu como ponto de partida criativo e te ajudou a relaxar suas expectativas criativas para o Petals For Armor? Tem um amplo espectro entre a adorável produção à la Radiohead em “Simmer” e a música pronta para uma balada como “Sugar On The Rim”.
Sim, a forma como o Paramore se transformou tem sido de um jeito quase perigoso. Não importa como nós nos sentíamos, nós seguíamos isso. Nós não deixamos nenhuma opinião externa ditar para onde nós iríamos em nossa carreira. Teria parecido inautêntico seguir o Riot com outro álbum que soasse como a cena emo. Nós nem éramos aquele tipo de banda mais quando o último single saiu. Eu lembro de sofrer com o fato de termos ficado popular com uma música como “Misery Business” enquanto já estávamos olhando pra frente e me sentindo outra pessoa quando “That’s What You Get” saiu. É como a gente se move em tudo. Quando nós chegamos no After Laughter, nós estávamos tão atrasados na mudança e para nos sentirmos vivos de novo. Eu estava muito orgulhosa e foi tão libertador falar sobre essas coisas. Eu acho que nem percebi que eu estava escrevendo sobre minha depressão até depois de falar sobre as músicas, porque enquanto eu escrevia, eu não sabia que estava depressiva. Isso criou conversas incríveis que me desafiaram a melhorar — muito disso aconteceu publicamente, e um pouco disso aconteceu quando eu tomava champanhe no quarto de hotel com o Zac [Farro], Taylor, e eu chorando sobre m**** que já é história passada. Esse álbum foi um enorme presente pra cada um de nós como indivíduos e como banda.
Petals For Armor quase soa como um exercício de amor-próprio: desde aprender a admitir seus problemas, desconstruí-los, reconhecer suas forças, expressar sua gratidão. De todas essas músicas, de qual você mais se orgulha?
Meu Deus. É difícil escolher um bebê. Eu acho que a escolha de hoje será diferente de amanhã e amanhã será diferente do dia seguinte. Mas se eu estou respondendo hoje, eu diria que é a música nomeada de “Crystal Clear”, que é a última música do álbum. Ela foi muito sem querer. Eu estava implorando e implorando ao Taylor por uma música que partisse dele primeiro. Assim é tipicamente como escrevemos músicas para o Paramore, mas não foi como escrevemos a maioria das músicas do Petals, mesmo as músicas escritas por nós dois não começaram assim. Então eu estava implorando, tipo, “Hey, vamos fazer do nosso jeito antigo! Nós temos feito isso de ‘eu’ e eu quero ouvir você!”. Eu queria ouvir o que ele estava sentindo na esperança de me levar a algum lugar novo. Ele me mostrou o começo de “Crystal Clear” — naquele momento, tudo o que ele tinha era o começo e tinha muito da bateria de Phil Collins nela. Nós acabamos terminando a música naquele mesmo dia. Nem toda música é um presente que é tão suave e simples, mas pareceu tão certo. Eu amei o que aprendi escrevendo-a. Eu amei a letra porque eu pude amarrar algumas referências do After Laughter que falavam de amor e atualizar as pessoas em como eu vejo isso hoje em dia, que é eu sentir medo, mas mergulhar nisso de novo. Eu estou orgulhosa e com medo disso, mas eu amo essa música. Tem um convidado muito especial nela, mas é muito pessoal e eu não sei se ele é alguém que já teve sua música no rádio ou algo do tipo, mas eu poderei falar mais disso quando chegar perto da data de lançamento.
Lendo algumas de suas outras entrevistas, parece que tem um medo muito razoável de fazer as coisas sozinha — não o ato de fazer música fora da banda, mas lançar essas músicas publicamente sem ser como uma banda. O que te ajudou a perceber que está tudo bem em lançar um material solo?
Foram duas conversas. Uma aconteceu há muito tempo atrás, antes mesmo de nós voltarmos da turnê de After Laughter. Nós estávamos gravando o clipe de “Rose-Colored Boy” e nosso empresário nos levou pra jantar. Foi uma conversa muito emocionante. A família de Taylor havia perdido uma pessoa querida. E nós estávamos no meio de um ciclo de um álbum muito pessoal para nós. Haviam muitas coisas boas acontecendo, e eu acho que quando coisas boas e crescimento estão acontecendo, há muita dor. Nós estávamos tentando fazer sentido de como nós poderíamos estar nesse momento incrível da nossa carreira e esse momento lindo da nossa amizade mas também nos sentir tristes. A verdade é que nós estávamos cansados pra c*****o, o que não é nada demais se você for pensar — é claro que estávamos cansados, nós estávamos fazendo música desde os 13 anos. Mas Taylor falou pra gente, “Eu acho que realmente é o momento, quando nós finalizarmos o After Laughter, de realmente dar um tempo. Não de jogar fora tudo o que fizemos e que estamos fazendo agora, mas nos dar um pouco de espaço e nos encontrar fora do Paramore”. E se nós só quiséssemos nos relacionar uns com os outros como pessoas? E se nós quisermos saber como é ir a um outro país sem ser em turnê, apenas ir e conhecer, andar pelo lugar? Não andar pelo lugar e então voltar depressivos para a passagem de som, ou ficar em Londres por cinco horas para uma sessão de fotos e então ir embora? E se a gente apenas quiser nos achar fora da onda como adultos? E se a gente quiser aprender a cozinhar alguma coisa? Mas sabíamos que nós seríamos horríveis em ficar em casa. [Risadas.] Mas eu realmente senti cada palavra que ele falou porque nós tivemos uma conversa 2 anos antes sobre eu querer sair da banda, antes de nós escrevermos o After Laughter. Ele disse, “Olha, nós podemos parar ou continuar, mas eu vou te apoiar não importa o que aconteça. Se nós decidirmos continuar, nós podemos cuidar um do outro de uma forma melhor do que fizemos no passado”. Então eu fiz jus a essa promessa e realmente apoiei ele e Zac também. Ele estava certo. Era o momento da gente ir pra casa um pouco e confiar que nós saberíamos quando seria o momento do Paramore fazer um novo álbum.
Tendo dito tudo isso, avançamos para quando eu comecei a fazer esse álbum, eu sabia que isso não pertenceria ao Paramore. Eu realmente queria cumprir a minha promessa de que todos nós merecíamos um tempo fora disso. Quando eu percebi que eu estava escrevendo mas do que eu imaginava, haviam duas opções: deixar essas coisas no armário e esperar pra ver se elas serviriam para um futuro álbum do Paramore ou eu poderia pedir ajuda agora e ver como eu me sinto quando estiver pronto. Quando cheguei na quarta ou quinta música, ficou óbvio que essa era uma expressão necessária. Taylor realmente me encorajou a lançar isso como um projeto oficial. Quando eu contei ao Zac sobre, ele disse a mesma coisa. Eu apenas vi essa mensagem no outro dia enquanto eu rolava pelas fotos porque eu tirei um print da tela pra guardar. Ele estava tipo, “Cara, você consegue. Você precisa fazer isso”. Taylor foi quem me disse que eu precisava contar ao nosso empresário para que eu tivesse esse sistema de apoio pronto pra funcionar. Ele continuava a me lembrar que era real. Eu negava até que ele me dizia que era real porque eu já tinha escrito as músicas. E ele estava certo!
São amigos ótimos! É assim que você sabe, um apoio genuíno.
Não é? Eles são os melhores! Tem sido um momento muito bom pra nós. Taylor não somente produziu, ele cresceu muito como músico. Ele virou uma força enorme e eu acho que não tinha percebido ainda tudo que ele podia fazer. E Zac está arrasando. Ele se mudou para L.A., começou um selo, está produzindo seus próprios álbuns. Todo o mundo está florescendo. É um sinal. É o que nós estávamos falando sobre mais cedo. Você sente algo em seu corpo e você pode tanto ouvir quanto ignorar. Agora nós estamos tendo esse momento realmente especial. Não vai durar pra sempre, mas vai definitivamente ter um impacto duradouro em quem nós somos.
Petals For Armor é temperado com todos esses ótimos momentos de amizade também, graças à participação dos membros do Paramore e amigos como a Boygenius. Parece que é como receber um grande abraço comunitário. Foi algo que aconteceu organicamente?
Sim, totalmente! As únicas contribuições que eu acho que as pessoas vão qualificar como participação é a música com a Boygenius e o guitarrista da minha banda favorita, mewithoutYou, o nome dele é Mike Weiss, ele tocou em “Creepin’”. Não havia razão para buscar um álbum cheio de participações. Parece que nós estamos inundados com isso. Não tem problema que as pessoas sintam que elas funcionam melhor criativamente nesse tipo de situação, mas eu não acho que funciono assim. Eu desenvolvo melhor com pessoas do meu círculo íntimo de amigos. De vez em quando, se eu sinto que vem naturalmente e parece certo, eu tenho a oportunidade de colaborar com algum amigo ou alguém que admiro. Eu realmente gosto de como isso se deu. Eu encontrei a Julien [Baker] no show de um amigo em Nashville. Ela estava com a Lucu [Dacus]. A Phoebe [Bridgers] viria no dia seguinte porque elas estavam trabalhando em… Algo. Talvez elas estavam trabalhando em coisas separadas. Mas foi destino. Acabou que o mewithoutYou ia fazer um show em Nashville que nós planejamos ir de qualquer forma, mas quando eu percebi o que isso poderia significar, eu percebi que precisava pedir ao Mike se ele podia passar no estúdio. Eu acho que aconteceu em um dia que todo mundo estava na cidade. Nós fizemos todas essas faixas — a guitarra do Mike e o vocal das meninas— em um dia porque todos eles foram para o estúdio. Pareceu natural porque todas essas partes são de amigos ou pessoas que eu já conhecia.
Desde dar um tempo nas turnês, parece que você tem investido mais tempo em cultivar e nutrir amizades, antigas ou novas. Eu recentemente me mudei para uma nova cidade e trabalho de casa, e me surpreendeu o quanto é difícil. Não existe exatamente um dia de como fazer amigos na vida adulta, especialmente quando você não é uma pessoa que vive indo em bares. Qual tem sido a parte mais difícil nesse processo pra você?
Primeiramente, eu realmente te entendo na parte de estar em uma cidade nova e ter essa situação de trabalho onde você não está regularmente vendo pessoas. Para mim, me mudar para Nashville durante o meu divórcio, eu não tinha nenhum outro jeito de ser realmente vulnerável. Eu não tinha energia para fingir ou ficar animada. Muitas vezes quando eu saio em público, eu sou introvertida, mas eu realmente me importo em deixar as pessoas confortáveis. Eu saio da minha zona de conforto pra deixar os outros confortáveis porque eu era a criança que sempre estava desconfortável enquanto eu crescia. Isso faz com que as pessoas achem que eu sou extrovertida, mas na verdade eu só não quero que as pessoas sofram sentindo as mesmas ansiedades que eu sinto. Do nada durante o meu divórcio, eu perdi toda a energia para agir dessa forma. Se alguém me perguntasse como eu estava, era melhor ela apertar os cintos, porque eu iria falar como eu estava e eu não me importava se estava em público. Eu não recomendo isso a ninguém, mas eu conheci alguns dos meus amigos mais próximos da vida adulta desse jeito. Eu estava em uma festa na casa do Zac para o aniversário de alguém. A esposa dele e eu começamos a falar quando eu a conheci naquele dia. Nós estávamos em um canto na casa de Zac apenas, sabe, se conhecendo pela primeira vez e fazendo perguntas. Acabou que nós passamos por divórcios similares, as duas estiveram em situações similares depois e eu fiquei, m****, eu não preciso sair da minha zona de conforto pelos outros. Eu preciso apenas ficar nesse momento e confiar que se for pra eu conhecer gente nova, eu vou achá-las e elas vão me achar. Tudo o que eu preciso fazer é a minha própria história e estar presente pra isso.
Você estabeleceu uma relação relativamente saudável com seus fãs no Twitter e Instagram enquanto ainda se fazendo presente, seja compartilhando memes de você mesma ou abraçando erros de digitação acidentais. Você também sabe quando e como dar um tempo nas redes sociais, o que igualmente importante. Você tem algum conselho para artistas que estão sofrendo pra achar esse equilíbrio?
Oh, cara. Redes sociais são difíceis. Não vai ficar mais fácil também; apenas mais difícil. Foi quando eu precisei implementar esses exercícios de escutar a mim mesma, aquela pequena voz que geralmente é mais sábia que eu. Eu chego em um ponto em que ou tudo vira ansiedade ou algum tipo de exaustão onde eu preciso esquecer que meu celular existe e apenas falar com quem conheço na vida real. Se for um conselho a outros artistas, eu diria, nós somos ensinados a acreditar que se não está lá fora, não existe, mas você definitivamente ainda existe. Mesmo que você não esteja postando provavelmente alguma m****, você definitivamente ainda existe. Eu preciso me lembrar disso o tempo todo. Eu existo muito mais na vida real do que no meu celular. Nós só somos acostumados a ver as pessoas por uma tela agora, mas isso não quer dizer que é a realidade.
*tomboy – Uma mulher que exibe características ou comportamentos típicos de um garoto (termo machista)
Tradução e adaptação: Paramore BR