Em entrevista ao Los Angeles Times, Hayley Williams falou sobre autocuidado, o processo criativo do “Petals For Armor” e revelou alguns planos para o futuro, como a vontade de se casar e ser mãe. Além disso, ela também revelou estar planejando uma “livestream” para os fãs que compraram ingressos para a turnê adiada do “Petals For Armor”! Confira a entrevista traduzida:
Hayley Williams está no seu sofá em Nashville, conversando sobre seu primeiro álbum solo em meio a carinhos com seu goldendoodle, Alf. A vocalista do Paramore, 31, deveria estar animadamente promovendo o “Petals for Armor”, que será lançado na sexta-feira. Porém, ela está em casa por tempo indeterminado. “É tão estranho sentar na minha varanda e não ver ninguém por volta. É apenas um terreno vazio desolado,” ela diz via Skype.
Para Williams, a pandemia tem sido uma montanha-russa. Em alguns dias, ela cozinha ou assa bolos, ou trabalha em sua música, e se sente produtiva de alguma forma. Ela achou uma fuga temporária no novo musical da franquia de “Bachelor”, “Listen to Your Heart”. Mas, ela diz, “Há dias em que eu literalmente não saí da cama e me senti tipo, ‘Oh, meu Deus, minha depressão está totalmente de volta”.
Como muitos de nós agora, Williams sofre com a solidão do isolamento, com a exceção de que ela tem um álbum de grande potencial prestes a ser lançado cujo destino se tornou impossivelmente incerto pelo coronavírus. “Eu fiz as pazes com isso”, ela diz sobre o lançamento de seu LP. “Eu estava realmente muito animada. Eu sou fã da [cantora de R&B] Kehlani, e ela tem um álbum para lançar essa semana também. As pessoas estão lançando artes incríveis no meio disso tudo”.
Desde 2004, Williams liderou a banda Paramore, um dos mais intrigantes, progressivos e bem-sucedidos grupos de rock das décadas de 2000 e 2010. Em um momento de imaginação limitada entre seus colegas do emo, Williams e o resto da banda trouxeram toques de R&B, pop oitentista e música country sem diluir a intensidade da sua presença ao vivo. Para além disso, a potência e flexibilidade de sua voz fez de Williams uma presença singular no pop-punk — praticamente uma Aretha Franklin comparada a, digamos, os incontáveis choros e gritos ao seu redor.
E apesar dela ter escrito com uma especificidade detalhada — sempre essa mulher em particular, não uma mulher em geral — o gênero de Williams deixou o grupo mais distinto desde o início: você não amava Paramore porque era melhor que outras bandas na Warped Tour (apesar de muitas vezes era); você amava Paramore porque eles iluminavam um novo espectro de experiências fora o mosh pit (roda-punk). Em uma cena dominada por homens e repleta de misoginia, Williams se tornou não somente uma rockstar mas um modelo a ser seguido, particularmente venerada por mulheres jovens, algumas das quais foram e formaram suas próprias bandas.
Fazer um álbum solo nunca foi exatamente uma parte dos planos de Williams. Após o lançamento do quinto álbum do Paramore, o “After Laughter” de 2017, e a tour que veio a seguir, a cantora e sua banda — o co-compositor e guitarrista Taylor York e baterista Zac Farro — decidiram que dariam um tempo. Williams planejava trabalhar em sua linha de tintas de cabelo veganas e cruelty-free, Good Dye Young, enquanto York queria produzir, e Farro queria focar na sua banda HalfNoise. (O baixista Jeremy Davis saiu da banda no fim de 2015).
Meu corpo já estava no ritmo de “Ok, estou pronta pra ser criativa de novo”, ela relembra. “Mas mentalmente e emocionalmente, eu não estava preparada”. Mas ela estava errada. “O universo é muito mais inteligente que isso, e até mesmo meu corpo é mais sábio que isso”, ela ri.
Em janeiro de 2019, o começo do projeto começou a emergir, apesar de ela ainda não saber. Williams tinha acabado de se mudar com sua avó para um centro de reabilitação para memória após um acidente traumático quando ela se conectou com o, às vezes baixista do Paramore, e amigo Joey Howard. Howard havia acabado de passar por algo similar, e o que transpirou de suas conversas sobre seus lutos se transformou em “Leave It Alone”, a primeira música que Williams escreveu para o “Petals for Armor”. Ela não sabia se alguém algum dia iria ouvir. “Foi só quando terminamos a terceira ou quarta música que eu fiquei, “Oh, sim, isso começou meses antes com ‘Leave It Alone’”, ela lembra.
Por diversas razões, a música que Williams criou não foram feitas pro Paramore. “Essas histórias são tão pessoais, e eu não queria dar a isso algo que, pra mim, já tinha virado um legado”. Com o Paramore, Williams não sente mais que eles precisam provar algo. “Quando for o momento de nós escrevermos um novo álbum, nós voltaremos mais forte”, ela diz.
Por agora, “Petals for Armor” é o foco de Williams. O título reflete o equilíbrio entre a dureza e a suavidade que Williams diz lutar contra durante os últimos anos. “Tem sido uma lição muito difícil pra mim de aprender porque muito do meu progresso na vida aconteceu porque eu apenas agi como uma durona”, ela diz. Mas isso parou de funcionar para ela. Ela precisou revisar seus mecanismos de defesa e como ela processava suas emoções.
“Eu tenho uma tendência a negar muito dos meus próprios sentimentos e então eu vou a público num palco ou o que seja e digo para as pessoas coisas que eu desesperadamente desejaria que eu fizesse por mim mesma”, diz. Williams quer que os jovens saiam do show do Paramore “se sentindo vistos, ouvidos e empoderados”. “Mas isso não significa que eu vou sair do palco e ir para meu camarim me sentindo uma rainha ou algo assim”, ela diz.
Através de terapia — e especificamente, um tipo de tratamento chamado EMDR (Dessensibilização e reprocessamento por movimentos oculares/Eye Movement Desensitization and Reprocessing) recomendado a ela durante um retiro que ela frequentou — Williams conseguiu processar suas emoções através de visualizações.
Para ela, EMDR era uma porta de entrada a outras formas de terapia que a ajudaram com seu TEPT (Transtorno de estresse pós-traumático), algo que ela pensou acontecer somente com veteranos de guerra e pessoas que foram sexualmente abusadas. “Eu não passei por nenhum abuso sexual ou físico, mas eu presenciei e isso tem sido muito frequente pela [minha] geração”, ela diz. E então ela percebeu que existem coisas pelas quais ela foi subconscientemente afetada, “quando a gente ainda está no ventre ou quando crescemos nesse tipo de ambiente”.
“Você junta isso com algumas das experiências que eu tive em relacionamentos muito tóxicos por 10 anos formativos do começo da minha feminilidade” — se referindo ao Chad Gilbert do New Found Glory, de quem ela se divorciou em 2017 — “E eu acho que apenas teve muita merda que eu não sabia como nomear”.
Durante uma de suas sessões de EMDR — que ela ainda continua a fazer — ela viu o que serviria de inspiração para seu álbum: flores saindo de seu corpo. “Não era bonito”, ela relembra. “Era horrível e doloroso”. Ela começou a perceber que ser gentil e vulnerável era tão poderoso quanto os vocais ao topo de seus pulmões que ela ecoava no palco. “Eu acho que é mais potente poder dizer sua verdade, sem rodeios e calmamente, do que precisar enrolar e gritar sobre isso”, ela diz.
Enquanto Williams ainda luta contra a depressão e ansiedade, ela pensou que seria importante para os fãs poderem seguir uma história em “Petals for Armor” e experienciar o desenvolvimento e progresso da personagem, que é porquê dela ter dividido o álbum em três partes ou EPs. “Nós queremos poder ver nossos amigos e quem amamos passar por algo e saírem mais fortes”, diz. “Isso não significa perfeitos, mas apenas uma versão melhor”.
Para o álbum, isso significou desenterrar detalhes brutos de seu relacionamento com Gilbert e vasculhar por seus traumas. Na pincelada de funk “Dark Horse”, Williams detalha suas batalhas e a vergonha que a paralisou. Williams admite ter sido a outra mulher no começo da relação dos dois que, no final, sobre ter sido traída. “Eu fiz minha própria cama, não é mesmo?” diz Williams.
Williams cresceu desde então e passou a se conhecer novamente. “Eu era uma pessoa completamente desajustada, e eu tinha muitas coisas boas para dar. Eu tinha muita energia, mas nada pra mim mesma. Em geral, eu não tinha respeito por mim mesma porque eu não estava exatamente pedindo ou demandando respeito de pessoas próximas a mim”, ela relembra.
Quando ela estava escrevendo “Simmer”, o arrepiante single principal de “Petals for Armor”, Williams diz que “a primeira coisa que me veio à mente foi raiva”. “Raiva é algo silencioso” ela canta, “Você acha que a dominou / Mas está apenas à espreita esperando”. Uma vez que ela começou a liberar sua raiva, tudo começou a se desenrolar. “Minha fúria tem sido uma fonte de alívio tão grande pra mim durante toda a minha vida”, ela diz. Ao mesmo tempo, o segundo verso da música se desenvolveu em um sentimento mais universal de uma ira estimulada por mulheres próximas a ela e o movimento #MeToo. “Toda mulher na minha família experienciou algum tipo de abuso horrível nas mãos de homens”, ela diz.
Williams se considera um “caso muito sortudo e raro” onde ela não tem nenhuma “história de horror” com homens. Ainda assim, ela explica, “eu tive camisinhas sendo jogadas em mim no palco o tempo todo, e as pessoas gritavam ‘Porra, você não tira a sua blusa’”. Williams não estava pronta para deixar alguém a envergonhar assim, então ela sempre retrucava. “Meu objetivo era a cada noite em cima do palco ser mais dura ou melhor e mais rápida com as respostas e cuspir mais longe”, ela diz.
A vocalista está em Nashville agora, divorciada e fazendo algo que não fazia havia uma década: saindo em encontros. Ainda que ela não tenha se aventurado no Tinder ou OkCupid, ela fica feliz que funciona para outras pessoas. “Eu não planejo fazer isso, mas eu me sinto tão feliz quando ouço as pessoas falarem que conheceram seu parceiro em um aplicativo de encontro”, diz Williams. Ela descreve suas próprias experiências com encontros como tendo “muita auto sabotagem”, mas é algo que ela continua a trabalhar na terapia. “Eu tenho esse desejo profundo de criar um lar com um parceiro, foda-se o aquecimento global e o COVID-19. Eu amaria ser mãe um dia”, ela diz.
Mas a vida está em uma grande pausa no momento, e entregar “Petals For Amor” para os braços dos fãs — os que estão com ela desde o começo do Paramore — é sua prioridade. Ela está em casa preparando um show digital especial para os fãs que compraram ingressos para a sua agora adiada turnê.
Enquanto a livestream ainda não tem data, Williams planeja tocar guitarra no palco pela primeira vez desde que ela tinha 15 ou 16 anos. “Soa horrível”, ela diz, “mas eu desejo pelo cheiro de estar em uma sala suada com outros seres humano, estejam todos eles cantando ou chorando ou rindo ou dançando. Eu realmente sinto falta disso agora”.
Tradução: Equipe Paramore BR.
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