Hayley ao Cool Accidents: “Eu me libertei de muita merda nesse projeto”
Por em 12 de maio de 2020

Em mais uma entrevista do ciclo de divulgação do seu primeiro álbum solo, “Petals For Armor”, Hayley Williams concede algumas palavras ao Cool Accidents, blog de cultura pop australiano. Leia traduzido abaixo!

ENTREVISTA: Hayley Williams fala sobre ansiedade social, falar o que pensa e a genialidade de Dua Lipa

Por Uppy Chatterjee

“Eu tenho muita alergia e tenho tossido muito, mas eu apenas quero dizer, eu não tenho corona,”Hayley Williams brinca dentro de sua casa nos primeiros segundos de nossa conversa. É uma quebrada de gelo instantânea.

A metamorfose que Hayley passou nos últimos anos foi imensa. Enquanto nós não tínhamos conhecimento disso até ela começar a falar sobre recentemente, antes do lançamento do After Laughter em 2017, Hayley acabou um casamento infeliz e começou uma longa jornada de auto-aceitação – ela precisou aprender a ficar sozinha consigo mesma muito antes de todos nós sermos forçados ao isolamento. Nós vimos facetas dos lados mais obscuros de Hayley darem as caras subconscientemente no último álbum do Paramore, mas seu tão esperado álbum solo, Petals For Armor – que a vocalista do Paramore disse uma vez que nunca faria – é uma jornada dolorosa e sem desculpas pela raiva, vergonha, luto, trauma e terapia que ela experienciou depois do seu divórcio. O deslumbrante álbum de 15 faixas, organizado em três movimentos, é prova de que flores podem crescer no concreto.

“Cara, eu já falei isso antes, eu nunca me senti presa ou reprimida criativamente com o Paramore, na verdade eu sempre me senti desafiada e completa. Mas por alguma razão esse era o momento pra isso,” ela explica sobre finalmente fazer um projeto solo. “Eu não esperava isso. Nós apenas decidimos dar um tempo pra gente e acabou por coincidir com um ponto na minha vida onde eu precisava olhar pra mim mesma e lidar com isso e, sabe, o jeito que eu lido com qualquer coisa é escrevendo.”

“Eu realmente acho que me libertei de muita m**** nesse projeto, e fico feliz que as pessoas estão dispostas a vir comigo nessa caminhada.”

Claro, os fãs do Paramore a acompanham desde o primeiro dia. Uma vocalista enigmática e encantadora, os fãs da lenda emo já a apoiaram em seus raros mas bem-sucedidos passeios pelo trabalho solo como Stay The Night com Zedd e Airplanes com B.O.B., no triunfo de sua empresa de tintas de cabelo Good Dye Young e agora, eles estão lapidando o conteúdo que Hayley está criando de sua casa. Esses conteúdos variam entre serenatas caseiras, vídeo de exercícios para Over Yet e vídeos cozinhando com seu cachorro Alf. Mas ao que Hayley nos relembra, para alguém que está lidando com demônios, terapia intensa e a ansiedade de finalmente expor seus momentos mais sombrios com o mundo, estar em casa agora não é tudo ensolarado e cheio de margaridas.

“Agora eu estou limpando a cozinha. Tudo o que eu faço é limpar. Eu apenas limpo incessantemente. Eu acho que ficar em uma casa limpa e organizada, cuidar do meu espaço, me faz sentir no controle, sabe, e é um pouco de como eu tenho lidado com a minha ansiedade. Sabe, muito desinfetante,” ela ri.

“Eu gostaria de te dizer que eu tenho essa rotina incrível e que é romântico e tudo isso, e eu acho que em alguns dias eu me sinto assim, eu acordo e faço uma cerimônia do chá comigo mesma apenas pra acalmar meu cérebro e deixar o dia mais leve, mas eu seria uma mentirosa se eu dissesse que sou consistente em algo assim. Eu acho que acordo e sigo o meu humor, que em alguns dias é apenas uma m****.”

A luz e o tom desses sentimentos são capturados perfeitamente em Petals For Armor, que foi lançado em um conjunto de três EPs. Petals For Armor I foi o mais sombrio deles – todos os visuais eram misteriosos e sinistros, a música beirando a perturbação às vezes e a primeira coisa que nós ouvimos do álbum foi a Hayley dizendo a palavra “raiva” em Simmer. Petals For Armor II foi mais esperançoso, como vendo um raio de luz através de uma vasta camada de copas de árvores, com a Hayley chamando amigas como Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus (também conhecidas como boygenius) na música Roses/Lotus/Violet/ris. Petals For Armor III – o único compilado de músicas que não nos foi alimentado semanalmente e será lançado como parte do álbum completo de Petals For Armor – é o mais brilhante. Como ver a linha de chegada enquanto você está correndo uma maratona, músicas como Pure Love, Sugar On The Rim e Taken no final do álbum são alegres, mais influenciadas pelos anos 80 e até nos entretém com a possibilidade de um novo amor.

O som de pop punk perpetuamente associado ao Paramore já está distante. Ao invés disso, um tipo de jazz experimental é trazido, graças ao co-compositor de Hayley, Joey Howard (baixista de turnê do Paramore) e produtor Taylor York (guitarrista do Paramore). Não é o tipo inacessível que você talvez ouça em um bar de Nova York cheio de pretensiosos aficionados por jazz, mas um que funde o espírito do gênero em sua divisão de compasso, a linha de baixo dispersa e alegre com a sensibilidade pop de Hayley.

“Sade foi uma grande influência [jazz] para o processo de composição meu e do Joey. Nós na verdade criamos um laço por causa de álbuns como esse, assim como Solange e uma banda chamada Mr. Twin Sister, que pra mim encarna muito do que eu amo em Sade. É só que são uma banda de Nova York, mais novos, tipo, em um mundo diferente.”

“Quero dizer, uma linha de baixo groovy é meio que, é o que eu gosto. Eu também amo baterias quero dizer, bateria foi o meu primeiro instrumento quando criança. Eu acho que faz sentido eu ter conhecido o Zac [Farro] primeiro, quando eu me mudei pra Nashville, e antes de entrar na banda ele era meio que um herói pra mim porque ele era esse garoto de 11 anos tocando todas essas, tipo, eu não sei qual a palavra certa pra isso, tipo, batidas com influências tribais? Ele tocava os tons e tinha muita síncope e uma qualidade bombástica no jeito que ele escrevia, você consegue ouvir isso em algumas músicas do primeiro álbum do Paramore. Eu acho que foi aí que começou pra mim,” Hayley relembra.

“Isso se modificou ao longo do tempo, e você pode ouvir isso no jeito que eu e o Taylor temos escrito músicas como Ain’t It Fun e até coisas com o After Laughter, nós apenas gostamos muito dos grooves e Joey, quando ele virou parte desse processo todo comigo e nós começamos a compor juntos, ele apenas não tem um livro de regras. E é tão incrível eu nunca me vi como alguém que seguia regras ou fórmulas, mas eu tenho feito álbuns há tanto tempo, que eu acho que essas coisas apenas começam a acontecer, e ele é tão revigorante nisso que ele olhava para as músicas de um ângulo totalmente diferente e pegara grooves ou tons que se movem por espaços que eu não esperava. Eu acho que nesse sentido, tinha muita influência de jazz e R&B e muito veio do nosso laço, nosso laço musical.”

Nós nos criamos um vínculo por um momento falando sobre a genialidade do novo álbum da estrela do pop britânica Dua Lipa Future Nostalgia, com Hayley fazendo cover do single principal Don’t Start Now em uma versão lenta e sutil para o Live Lounge da BBC Radio 1.

“Oh, cara, eu AMEI isso!” Hayley exclama. “Quero dizer, isso foi realmente apenas nós nos deixando levar por algo mais lento porque eu amo esse álbum da Dua, eu acho que tem algo muito, muito genial musicalmente acontecendo em um álbum pop tão brilhante. E eu acho que a música pop precisa de mais disso. Eu acho que ela está, sozinha, trazendo isso de volta a um mundo muito mais novo que eu acho que precisa ser alimentado com coisas boas. Sabe, ela está fazendo música pop, mas tem tantos grooves e coisas complicadas acontecendo ali! Eu estava muito animada com ela, primeiro como uma fã de música, mas quando nós tivemos a chance de fazer um cover, nós queríamos fazer do nosso jeito e eu queria que soasse sexy e queria que soasse um pouco desesperado e triste, mesmo sendo uma música empoderada.”

Muitos artistas nos convidam a seus pensamentos íntimos com suas músicas – alguns dizem que o melhor tipo de música sempre faz isso – mas com o Petals For Armor parece quase um outro nível, como se nós estivéssemos invadindo os pensamentos mais privados de Hayley e talvez recebendo dela mais do que merecemos. É também notável que essa era nos ofereceu uma maior percepção da mente de Hayley do que talvez tenhamos tido em anos – e é uma Hayley mais vulnerável que nunca. Será que ela se preocupa em ser muito vulnerável com as pessoas?

“Claro, sim, o tempo todo,” ela diz gentilmente. “Eu faço isso até quando estou apenas conversando com um novo conhecido em um evento de música ou talvez numa festa de aniversário de um amigo, eu só sou uma dessas pessoas que, tipo, eu não consigo não ser completamente transparente e eu saio da maioria das interações sociais tipo ‘M****, porque eu acabei de dizer isso? O que eles vão pensar de mim?”

“Eu tenho uma ansiedade social muito real. Mas ao mesmo tempo, eu sou meio, ‘o que eu preferiria?’, sabe, porque eu sou muito introvertida, mas eu posso não falar de jeito nenhum ou eu posso apenas ser real e honesta. E se alguém não gosta, tudo bem, eu tenho ótimos amigos. Eu não estou a procura de contratar um. Eu não sei, eu acho que em alguns dias eu me sinto muito idiota. Tipo, alguns dias eu fico meio ‘cara, eu nem notei. Tipo, por que eu tweetei isso?’. Eu deleto tweets. Eu deleto tweets o tempo todo. Cara, oh, sim, porque eu me arrependo de tudo o que eu faço!” ela ri. “Mas… Mas eu estou tentando crescer disso.”

“Eu nunca planejo nada disso. Vocês aparecem me fazendo perguntas e eu fico tipo, ‘bom, AQUI VAI!’ Então, eu estou tentando honrar a oportunidade de compartilhar meu coração e, sabe, vocês não sabem de tudo e os fãs ainda não sabem de tudo. Existem partes da minha vida que eu acho importante proteger, mas ao mesmo tempo tem muitas lições que eu aprendi e eu fico, ‘qual o sentido em fingir que eu não passei por isso? Qual o sentido em não ser sincera sobre o quão m**** eu me sinto agora? Ou o quão bem eu me sinto depois de fazer isso?’. Eu acho que é algo diário, eu acho que nós vamos saber em alguns anos se eu realmente me arrependo de algumas dessas coisas. Eu estou tendo um momento bom ao dividir e conversar, ter papos reais sobre tudo isso. E, sabe, eu reconheço isso como um privilégio.”

É certamente um privilégio ser convidado a entrar na mente de alguém introvertido, ainda mais quando essa mente pertence à Hayley Williams. Petals For Armor é trabalho espetacular ao mesmo tempo que é humilde, nascido da dor mas agora uma vitrine triunfante da beleza que pode surgir quando você olha pra si mesmo e finalmente começa a se reconstruir.

Tradução e adaptação: Paramore BR | Fonte