Trackseven: Hayley conta sobre os avanços de sua carreira após o Riot!
Por em 28 de julho de 2017

Em matéria feita pela Trackseven, após a turnê europeia, Hayley falou um pouco sobre as mudanças da banda desde o começo da carreira até o momento. Confira:

Há pouco mais de dez anos, quatro jovens amigos de Nashville, Tennessee, lançaram um álbum que definiria uma era. Riot!, o segundo CD de um Paramore bastante intenso, dominou as rádios e as capas de revista da época, trazendo uma estética que permanece icônica até hoje e tornando-se um elemento crucial na construção de inúmeras identidades adolescentes.

No seu recente aniversário, uma infinidade de palavras foi dedicada ao que o álbum defendeu – e continua a defender – e o impacto que teve na cultura alternativa e na vida dos ouvintes. E com razão. Mas longe de sua recepção positiva, o Riot! teve alguns efeitos negativos na vida de seus criadores.

Recentemente em casa depois de uma turnê europeia – a primeira que inicia o ciclo do quinto álbum, After Laughter – a vocalista do Paramore, Hayley Williams, está refletindo sobre a vida e sobre os avanços de sua carreira após o Riot! “Nós éramos apenas crianças antes do Riot! ser lançado. Na verdade, fomos crianças por um longo tempo depois disso”, ela ri. “Eu tenho uma lembrança distinta – na verdade, em algum lugar há um vídeo – de todos nós, Taylor também, indo a um parque. Era primavera, 2007, e nós estávamos juntos tocando naquele parque. Quão inocente você pode ser? De muitas maneiras, essa foi a última temporada sem complicações para nós como amigos”.

As crianças nesse parque não poderiam ter previsto a escala de sucesso – e complicações – que se seguiriam. Ser transformado de ‘pessoas cheias de esperança e com olhos brilhantes’ para superstais globais não é algo que qualquer banda possa realmente esperar para se preparar, por maiores que sejam suas ambições. Havia um sentimento, no entanto, de que algo estava prestes a acontecer.

“Havia uma emoção em torno em torno desse álbum que nós sabíamos que era diferente de tudo o que já havíamos experimentado até então”, diz Williams. “Claro, nós havíamos lançado um álbum, mas eu quero dizer que nós estávamos confiantes de que as pessoas – ou, pelo menos, as pessoas certas – iriam obtê-lo. Especialmente por que toda a nossa estética e a representação física das imagens do álbum se tornaram tão coesas, tão sem esforço. Foi apenas um relâmpago em uma garrafa em um momento de criatividade”.

Pouco depois, a banda viveu um momento onde finalmente entenderam o que estava acontecendo!
“Alguns meses antes do lançamento do álbum”, Williams continua. “Nós fomos para uma peça de teatro no The Underworld em Camden e estávamos olhando pela janela do carro, quando eu vi a palavra Riot! pintada em um dos edifícios perto dali. Eu sabia que era para nós porque foi feito com o mesmo tipo de rabisco, quase exatamente como estava na capa do álbum. Naquele momento, eu falei em voz alta: ‘as pessoas conseguem! Este é o melhor sinal que poderíamos ter”.

Apenas quinze semanas antes de um show, a banda estreou o clipe de Misery Business, que seria o hino pop-punk daquele verão. Graças a esse vídeo, Hayley Williams se tornou um ícone de cabelo flamejante, uma figura quase totémica para a angústia e rebeldia adolescente. Em poucos meses, Williams tinha passado de uma garota que ia ao parque com seus amigos para uma estrela do rock. Agora, cercada por sua forte imagem e com os holofotes ardendo fortemente sobre ela, mesmo as coisas triviais se tornaram comerciais.

“Essa foi a coisa mais estranha. Uma de nossas turnês foi patrocinada por uma empresa de celular que não nos deixava usar nada além dos celulares da marca. Tudo o que eu deveria fazer era andar com arrogância com o meu T-Mobile Sidekick III. De qualquer forma, passamos dois meses fingindo usar eles telefones e a empresa faliu nem mesmo um ano depois”.

Fora de foco e distante das máquinas corporativas que vem com o sucesso mainstream – “o sucesso desse álbum parece ter deixado uma sombra em cima da pureza que criamos quando começamos a banda”, Williams admite. A banda tinha ainda as mesmas crianças, tentando de tudo para manter os pés no chão.

“A primeira grande turnê que fizemos durante o ciclo de divulgação do Riot! ocorreu no outono de 2007”, lembra Williams. “Vários teatros bonitos onde havíamos feito shows de abertura, mas nunca sido a atração principal. Chegaram vários fãs novos e nós quisemos mostrar a eles que tudo ia além daquilo que tinham visto na MTV. Existia profundidade e existiam raízes por trás daqueles pôsteres com penteados do Myspace”.

“Fizemos um cover de uma música do Sunny Day Real Estate naquela turnê. Eles eram uma das nossas bandas favoritas. Era uma música de 6 minutos de duração e toda noite nós sabíamos que apenas poucas pessoas a conhecia. Acabou sendo um bom lembrete que, mesmo que as coisas tinham se tornado mais loucas, tudo isso começou um dia após da aula, na casa dos Farros ou no porão dos Yorks… aprendendo músicas e nos conectando sobre bandas que amamos”. – Hayley é uma pessoa diferente hoje. Em 2017, ela já esteve em todo lugar e já viu de tudo. Williams está longe de ser aquele tipo de pessoa que admite que saiba de tudo – na verdade, tanto nas gravações quando em público ela deixa claro que não é assim – mas sérias lições foram aprendidas e várias realidades foram encaradas.

Um dos momentos mais difíceis dessas realidades tem sido a constante necessidade de uma responsabilidade enquanto artista. Há não muito tempo, Williams foi alvo de comentários questionando a validade de seu feminismo. O argumento era que uma mulher que já havia cantado algo como “Once a whore, you’re nothing more / I’m sorry that’ll never change” (Uma vez vadia, você não passa disso / Me desculpe, mas isso nunca vai mudar), como ela fez em Misery Business, não poderia ser um ícone feminista de verdade. Williams respondeu às críticas na publicação de um blog, na qual ela destacou a importância do amadurecimento e declarou: “Eu tenho 26 anos. E sim, tenho orgulho de ser feminista. Talvez não a mais perfeita”.

“O que mais me incomodou”, diz Williams sobre o assunto, “foi que eu já havia refletido muito sobre isso, anos antes que antes havia decidido que era um problema. Quando o artigo começou a circular, eu tive que refazer aquilo na frente de todo mundo. Mas isso foi importante, mostrar humildade naquele momento. Eu era uma criança de 17 anos quando compus aquele verso em questão e se eu pudesse de alguma forma exemplificar o que é o amadurecimento, se informar e, de alguma forma, ‘acordar’, estão está tudo certo para mim”.

No décimo aniversário do lançamento do clipe de Misery Business, Williams postou um tweet no qual se referia à música como sendo “meio patife e com pensamento retrógrado”, reiniciando a conversa sobre tomar responsabilidade por sua arte e a ideia de amadurecimento com relação ao material antigo. Isso aumentou as especulações entre fãs e críticos, se tudo era consequência por ser uma compositora honesta ou por ser apenas jovem demais para saber. Quando perguntada diretamente sobre isso, Williams é excepcionalmente franca.

“Foram as duas coisas”, ela diz. “[As letras] literalmente vieram de uma página do meu diário. O que eu não sabia na época era que estava me alimentando de uma mentira na qual eu mesma me enfiei, assim como outros adolescentes – e vários adultos – antes de mim. Aquilo de ‘Eu não sou igual às outras garotas’… a religião das ‘garotas legais’. O que era aquilo? Quem eram os detentores do legal? Eram todos homens? Eram mulheres que foram colocadas no topo de um pedestal inalcançável?”

“O problema com a letra é que ela não estava ligada a nenhum problema que tive com alguém da minha escola. Era apenas sobre o colégio, as amizades e os términos de relacionamento. Foi o modo como eu tentei chama alguém usando palavras que não pertenciam à conversa. É o fato de que a história foi montada dentro de um contexto de competição que não existia, sobre um romance fantasioso”.

Quando o Paramore tocou recentemente Misery Business no Royal Albert Hall em Londres, e chegou à parte em questão, Williams optou por não cantar o verso ofensivo. Foi um pequeno gesto, mas uma clara indicação dos seus sentimentos sobre a música atualmente vão além de algo dito em uma entrevista ou nas redes sociais.

É raro de se ver um artista fazer isso. Sem citar nomes, imagine como os cantores de pop punk ficariam mudos no palco se eles adotassem a mesma medida. Claramente, existe um entendimento entre banda, fãs e mídia, de que os artistas nem sempre se expressam da melhor forma nos conteúdos de suas letras. Williams não precisou evidenciar este problema, mas é claro que estar apta a confrontar isso é algo importante para o seu crescimento pessoal.

“Eu realmente gosto de saber que, ao final do dia, eu tentei fazer a coisa certa”, diz Williams. “E quem sabe? Talvez tenha sido em vão? A minha jornada é só minha – não existem outras iguais. Por qualquer razão que seja, acredito que eu precisava escrever aquelas palavras retrógradas e precisava aprender algo disso… anos mais tarde. Isso me tornou mais empática com relação a outras mulheres, que talvez sofram de ansiedade social… e com relação a garotas mais novas que estão nesta fase de aprender a enfrentar, se relacionar e se conectar. Nós estamos tentando o nosso melhor. É muito mais fácil quando temos apoio e comunidade com o próximo. A vulnerabilidade ajuda a firmar o alicerce disso tudo”.

No novo álbum After Laughter, Williams é a versão mais franca e honesta que já foi gravada dela mesma. Parece mais ser uma página do diário do que aquela página real em Misery Business. É uma coleção de músicas sobre depressão, autorreflexão, e qualquer conflito emocional; mas a parte mais impactante é Idle Worship, três minutos transbordando toda a confusão e frustração que vem de ser colocada em um pedestal.

Já que Riot! foi o catalisador disso, é natural assumir que versos como “Don’t hold your breath, I never said I’d save you, honey” (Não prenda a respiração, eu nunca disse que te salvaria, querido) e “If it’s okay a little grace would be appreciated” (Se estiver tudo certo, um pouco de graça seria apreciada) pode ter sido escrita com aquela era em mente. Ou talvez não. Estes sentimentos são muito mais abrangentes que isso.

“Eu não diria que a era Riot! serviu mais inspiração para a música do que a auto-intitulada”, revela Williams. “Eu realmente estava em um pedestal naquela época. Era uma ‘supermulher’ que alegremente acreditava que as minhas intenções eram boas o suficiente para me guiar em qualquer ruína que me aguardasse. Você não espera que a vida derrube um piano do céu. Isso acontece quando preciso”.

“Quando finalmente tive um tempo de folga, quando ficamos quase três anos parados, eu não tinha distrações”, ela continua. “Nenhuma capa pendurada no guarda-roupa. Era apenas eu e o espelho do banheiro. Sem mesmo as selfies com fãs me fariam acreditar que era invencível, nunca mais. Deve ser difícil para um fã do Paramore escutar aquela música… mas as pessoas precisam entender que eu me desapontei mais do que qualquer um. Eu me encaminhei para a derrota! Para quem não sabe, eu vivia de látex durante dois anos e parecia como uma super-heroína. Quando a depressão me atingiu, eu raramente tirava o meu pijama. Escrever Idle Worship foi o começo de encontrar minha voz novamente”.

“Hoje em dia, vestir roupas vintages é muito mais triunfante do que tingir o meu cabelo com cinco cores diferentes, como costumava ser. Isso me lembra da pessoa colorida que sempre fui, mesmo antes de alguém prestar atenção. Não um super-herói e nem um bicho-preguiça de pijamas, mas sim um humano brilhante e estranho”.

E Caught In The Middle? Aquele verso, “I can’t think of who I was, cause it just makes me want to cry” (Não posso pensar em quem eu era, pois isso me faz querer chorar)? Isso é para o Riot!, certo? Mais ou menos.

“Você sabe quando estava falando sobre passear no parque antes do lançamento do Riot!?”, pergunta Williams. “Foi uma mistura entre este sentimento e aquele super-herói que fingia ser durante a era auto-intitulada. Eu tive que fugir destas versões de mim mesma para poder crescer e evoluir enquanto uma adulta. Não é tanto sobre arrependimento, mas sim uma constatação sóbria de que ‘tudo é passageiro’”.

Claramente, a perspectiva de Williams é sustentada por coisas que vão além do álbum que colocou a banda em evidência – não importa quantas questões foram perguntadas – mas uma parte do After Laughter que certamente pode ser analisado por conta de seus precedentes é a canção Forgiveness. Naquela faixa o conceito de perdão é colocado em perspectiva. Revelando ser uma fera intimidadora e complicada. Algo bem distante do “I’m sorry honey, but I pass it up” (Desculpa querida, mas eu estou passando por cima) que Williams cantou em Misery Business. “Uma das maiores lições da minha vida será aprender o que o perdão realmente é”, diz Williams. “Eu tive várias oportunidades de oferecer e de aceitar. Mas para realmente entender isso, é algo diferente. Uma das melhores frases que eu vi sobre isso – acho que foi dita por um pastor – é, ‘Quando você perdoa, significa que você absorve a perda e a dívida. Então todo perdão vem com um custo’. Quando você reflete sobre isso, ficará desorientado por um tempo”.

Eis onde Williams se encontra atualmente; entendendo o presente, ao invés de remoer o passado. Ela certamente refletiu sobre a era Riot!, como sendo o pivô de tudo por um bom tempo ao longo dos últimos anos, mas não é bem assim. “Eu acho que a razão pela qual fiquei vadeando naquelas memórias foi porque o pivô estava em nossas vidas pessoais. Para mim, é nesta parte que a vida fica complicada. É o que eu imagino que alguém deva sentir quando percebe que a época de escola ficou no passado e agora eles precisam lidar com a isso. A vida real”.

Mas e o Riot! hoje? O décimo aniversário já passou e, enquanto várias bandas usariam esse marco nas carreiras para fazer uma grandiosa música e dança, o Paramore parece ter ignorado isso. Nós não ganhamos 50 novas variações de vinis, muito menos a banda planeja fazer uma turnê todas as músicas do álbum.

“No momento, nós realmente não estamos olhando muito para o passado”, diz Williams. “Houve um período, logo após finalizar a turnê da era auto-intitulada, quando eu estava temerosa que os meus melhores dias já haviam passado. Isso foi como uma morte. Quando nós finalmente fizemos as demos que nos animaram, eu não estava mais desesperançada. Eu realmente agradeço ao Taylor por me encorajar. Agora estamos aqui, eu sinto que somos uma banda nova. Sabemos como honrar e apreciar o passado, mas não é o momento de ser piegas e nostálgico sobre tudo”.

Hayley Williams possui algo que ela pode aprender com isso: a sua perspectiva não é de arrependimento, autocrítica ou de vangloria do passado. Ao invés disso, é um início de conversa profundo que diz sobre mais sobre a vida do que um álbum platinado.

“O que eu levo dessa fase da vida”, ela conclui, “é que nós tivemos um verão dourado na vida – que Riot! realmente parecia ser – que nós podemos tentar minerar para sempre… ou podemos apreciar pelo o que foi e seguir em frente. Agora temos que encontrar outros verões. As outras estações nos fazem pensar que estamos exatamente onde devemos estar. Se você estiver constantemente virando, olhando para a direção de você veio, como pode apreciar onde está hoje? Você precisa se dar uma chance”.

Tradução e adaptação: equipe do Paramore BR | Fonte

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