A revista americana SPIN recentemente publicou sua análise do “After Laughter”, quinto álbum de estúdio do Paramore. Confira traduzido!
O excelente “After Laughter” do Paramore é todo triste debaixo de sua nova onda de brilho
Paramore é uma nova banda – de novo. Com a sua quinta mudança de line-up no mesmo número de álbuns, eles perderam o baixista Jeremy Davis e recuperaram o baterista fundador Zac Farro para sua dinâmica interna. A sucessiva mudança de som é, apropriadamente, uma rítmica. Guitarras, sintetizadores e bateria, todos fazem parte da percussão; juntos eles parecem como uma série de lampejos incrédulos se agitando através das músicas no “After Laughter”, o primeiro álbum deles em quatro anos. A bateria que introduz a faixa de abertura, que também é a faixa principal, “Hard Times”, se funde um alinhamento idêntico de guitarra para formar um padrão de vibrantes cores primárias. É o álbum mais vivo e animado da banda. O som é nítido, cada camada é discernível, faltando os borrões e reverberações que constituem a produção do rock tradicional e, ao invés disso, é traçado pelas separações rítmicas que caracterizam o pop dos anos 80 e o estilo livre.
Por mais que essa abordagem pudesse ser creditada a Farro, cuja bateria sustenta alternadamente os sons em ângulos agudos ou derrete em preenchimentos densos, muito do fundamento inicial foi feito pelo guitarrista Taylor York no álbum anterior, o autointitulado de 2013, quando ele se tornou um dos compositores principais da banda. Depois da saída do guitarrista fundador Josh Farro em 2009, as composições de York redefiniram o Paramore como uma banda de pop-rock mais sobre textura do que acordes curtos. As partes de guitarra dele são como frações extraídas de composições de rock mais amplas, pedaços soltos para o qual não há um quebra-cabeça original. Considere aqui os acordes de guitarra do hit “Still Into You” do álbum autointitulado, que sobe em ajustes perpendiculares ao longo da música. A qualidade do som é tanto percussiva quanto vocal, a vocalista Hayley Williams ao invés de gritar sobre um fluxo de guitarras, responde e tece seu caminho em torno dos ritmos sobrepostos. O que outras bandas considerariam detalhes pequenos e enfeites, são considerados como detalhes centrais para a composição de York.
Em “After Laughter”, o trabalho de guitarra de York parece recém descendido de Lindsey Buckingham, outro guitarrista que constrói músicas inteiras a partir de floreios. Ele grava arabescos precisos por toda “Told You So” e “Forgiviness”, dando às músicas uma forma elusiva e viva que fazem lembrar de “Tango in the Night”, de Fletwood Mac. “Forgiviness” em particular é uma das melhores músicas da banda, a mais gentil e alegre rejeição, flutuando em algum lugar acima do ressentimento e tristeza que ela transmite. “Você quer perdão”, Williams canta, a guitarra de York envolvendo a voz dela em um tipo de brilho cósmico, “mas eu simplesmente não posso fazer isso”. “Musicalmente, esse é o mundo em que eu me imaginei vivendo como uma pessoa”, Williams contou à Zande Lowe mês passado, descrevendo o som vívido de “After Laughter”. “É um mundo divertido… e eu sinto como se várias pessoas querem se sentir dessa forma”.
Contudo, o limite entre o velho Paramore emo e o novo Paramore pop é mais permeável nesse álbum do que os singles iniciais sugeriram. Os versos de “Fake Happy” compartilham a vibrante superfície brilhante de “Hard Times” e “Told You So”, mas o refrão da música abre um buraco negro no álbum, através do qual a banda pisa e emerge soando estranhamento como aquele feito em “Brand New Eyes” de 2009. O próximo single, “26”, parece, no seu arranjo, como uma sequência de “Misguded Ghosts” de “Brand New Eyes”, a voz de Williams acompanhada somente por um violão e uma seção de acordes, ligada e ansiosamente reagindo ao som como um sistema nervoso externo. “Afinal não era que disse / para manter os seus pés no chão” ela canta, respondendo a uma versão anterior dela mesma, que cantou “mantenha seus pés no chão / quando sua cabeça está nas nuvens” em “Brick by Boring Brick” do álbum “Brand New Eyes”.
Ao longo de “After Laugter”, Williams age como um tipo de antagonista. Ela está em desacordo com a textura do álbum, cantando de um contraponto tão obscuro que parece abrir um vácuo no meio do álbum. “Caught in the Middle”, que aparece na segunda metade, é o coração do álbum. Williams canta “Eu não preciso de ajuda / Eu posso me sabotar” com tal profunda desconexão da superfície brilhante da música e seu núcleo desesperado que ouvindo a ela se parece com deslizar entre dois polos emocionais. “Ele disse que meus olhos estão ficando muito escuros agora / Garoto, você nunca viu minha mente”, ela canta por cima da síncope de Tom Tom Club em “Rose Coloured Boy”, e ainda que a entrega de Williams seja animada e flexível – o canto dela sendo estimulante no pop contemporâneo e no rock de rádio pela precisão do seu tom – as letras transmitem intermináveis abismos de ansiedade, depressão e exaustão. Quando combinados com os ambientes de êxtase construídos por York e Farro, o álbum parece incorporar um tipo de ânsia lúcida que caracteriza um colapso nervoso.
A escuridão da perspectiva de Williams se constrói ao longo do álbum e em “Idle Worship” ela atinge um ponto de quebra que é perturbadoramente literal – assim que ela canta os versos (“Lembra como / nós costumávamos gostar de nós mesmos?”) a firmeza na voz dela se quebra. Na próxima faixa “No Friend”, Williams cede o momento mais sombrio do álbum para Aaron Weiss de MewithoutYou, que entrega um monólogo falado em cima das obscuras inversões de York e Farro dos acordes curtos de “Idle Worship”. As letras de Weiss adicionam detalhes métricos aos sentimentos de “Idle Worship”, uma música sobre expectativas interpessoais e a vasta distância entre a concepção de alguém sobre si mesmo e a ideia sobre essa pessoa que existe na mente dos outros: “Então lance seu pedestal de pedra no mar esquecido” Weiss diz, “como proteção contra a perfeição fina como papel que você projeta em mim”. Neste ponto, o álbum atinge o precipício e a música que fecha o álbum, “Tell Me How”, se sente como alguém peneirando os destroços de um desastre. “Eu sei que você pensa que eu apaguei você” Williams canta. “Eu sei que você me odeia, mas eu não posso odiar você”. Pela maior parte da música, há apenas um piano junto à voz dela, mas eventualmente a guitarra de York e a bateria de Farro entram e silenciosamente contibuem para o detalhe da música, se fundindo como ondas que roçam contra a superfície irregular de um penhasco.
“After Laughter” não é tão impressionante quanto ao álbum autointitulado da banda, que explodiu a ideia do Paramore como uma banda e permitiu a eles, por explorarem cada tom e nuance de sua identidade, se tornarem inequivocamente eles mesmos. Qualquer coisa mais limitante, se não no som, mas em escopo, iria inevitavelmente se encolher próximo a isso. Mas “After Laughter” tem a sua própria distinta identidade. Os álbuns anteriores do Paramore descreveram os riscos do coração partido, crescer e sobrevivência; as músicas em “After Laughter” são quase exclusivamente sobre sobrevivência, parecendo pegar um fio do seu álbum autointitulado e seu foco em reconstruir a vida e a banda de alguém. “After Laughter”, no entanto, observa um diferente aspecto do tema sobrevivência: o vazio e a inutilidade, e quão frequentemente falha em alterar o universo indiferente que a rodeia e requisita.
Tradução e adaptação: equipe do Paramore BR | Fonte