Pitchfork publica review sobre o “After Laughter”
Por em 15 de maio de 2017

A revista eletrônica Pitchfork, conhecida por fazer resenhas e criticas sobre lançamentos musicais, publicou hoje (15) em seu site um review sobre o novo álbum da banda, “After Laughter”. Confira a tradução na íntegra:

Hayley Williams sabe como fazer o papel de uma conquistadora contente. Mesmo enquanto canta sobre raiva, traição e desapontamento, superando-se a cada era e com vídeos bem coloridos ao longo dos últimos 13 anos, a líder do Paramore tem projetado um porte de profissional, aliado ao desejo de satisfazer. Desde quando era uma adolescente, Williams conduziu músicas angustiantes de pop-punk com a autoridade amigável de uma conselheira de acampamento de verão. Ela foi longe. Ela sorriu. Ela esteve em completo controle. Mas no recente vídeo para “Hard Times”, o primeiro single do quinto álbum da banda, as coisas estão um pouco diferentes.

O clipe começa com Williams saindo de um carro que se colidiu com um cenário decorado com nuvens de bolas de algodão, em um olhar inseguro: Como eu cheguei aqui? Logo após, um microfone é colocado em sua frente e ela começa a cantar e dançar em uma brilhante música new-wave. Mas nem tudo parece estar certo. Quando ela mostra os seus dentes aqui, parece ser mais um riso de loucura do que um sinal de genuíno prazer, um sorriso cauteloso de toda a jornada rock’n’roll que Williams vivenciou.

O Paramore passou por trocas de integrantes dignas de matérias de tabloide, o suficiente para garantir aquelas linhas do tempo baseadas em cores em sua página do Wikipédia – pois a verdade sempre esteve presente, existiram sussurros sobre uma carreira solo de Williams. Ainda que alguns integrantes do grupo de Nashville tenham saído, reclamando da subordinação, você pode argumentar que, partindo da ideia de estar em uma banda de rock com seus melhores amigos – o que não é exatamente o conceito mais moderno, em uma era de pop fabricado no ProTools – foi Williams quem fez o maior sacrifício. Então, depois de anos alegremente mantendo as luzes do Paramore acesas, a cantora e compositora de 28 anos reflete sobre sua vida e abandona o sorriso em “After Laughter”.

E isso tudo parece ser uma enorme experiência triste. Mas, assim como destaca a maior contemplação existencial de Williams até o momento, é também o álbum mais efervescente que o Paramore já gravou. Este yin-yang extremo é algo relativamente novo para eles. Quando o ex-guitarrista Josh Farro estava no comando musical nos três primeiros álbuns, seus hinos fatídicos e distorcidos propulsionaram a angústia de Williams enquanto ela gritava para o vácuo, tal como uma malfeitora de heavy-metal, ainda que baseada em uma devota fé cristã; em “Brand New Eyes”, que marcou a separação entre Farro e Williams na vida real, a instrumentação e os vocais brigavam entre si para cada um contar o seu lado, fazendo assim uma gloriosa explosão. Após a saída de Farro, o guitarrista Taylor York assumiu os encargos no álbum “Paramore”, no qual o grupo procurou por uma nova identidade, seguindo um discurso post-rock, baladas regidas por instrumentos de corda e o funk-pop de seu maior hit até então, “Ain’t It Fun”. Desde então, o baixista de longa data Jeremy Davis deixou a banda em meio a uma disputa sobre créditos nas composições (ele e o grupo recentemente entraram em acordo judicial), enquanto o ex-baterista Zac Farro, irmão de Josh, voltava após seis anos. Todas estas idas e vindas podem parecer triviais em relação à popularidade de Williams, mas o drama sempre serviu de combustível para o seu processo criativo, assim como para o som da banda, de certa forma.

Em “After Laughter”, York foca em suas inspirações nos estilos rock e pop dos anos 80, evocando uma visão do que seria um retorno de Talking Heads, Paul Simon e The Bangles. Os membros atuais do Paramore mal viveram durante a década de 1980, para eles essa década representa algo idílio – uma era de cores neon, ritmos fáceis e fábulas alto astrais, como Os Goonies. Ao invés de batalhar contra as palavras de Williams, a melodia age como um brilhante contraponto, uma linha do tempo nostálgica de um amigo a outro. Em “Forgiveness”, Williams não oferece, mas a música baseada em guitarras retiradas de Graceland sugere uma possibilidade de uma reconciliação no futuro; “Pool” encontra Williams afogada sob uma onda, enquanto o brilho estridente da faixa a puxa para a superfície. A música encontra a mensagem diretamente em “Grudges”, destaque do álbum no qual Williams detalha sua reunião com o baterista Zac. “Você está recontando todas as minhas culpas e você está torturando o seu cérebro apenas para encontrar todas elas,” ela canta, descascando todas as fissuras da amizade. “Pode ser que eu tenha mudado – ou então você?”. Neste ponto alguém grita “woo!” – ou talvez “whew!” – e toda a banda cai no refrão.

Porém, quando os ganchos titubeiam, Williams pode parecer deselegante, especialmente para alguém chegando aos 30 anos. “Fake Happy” e “Caught In The Middle” vêm como as reclamações básicas de um adolescente do ensino médio, e a piegas “26” parece indulgente, cintilante e chorosa, se encaixando em uma animação da Disney. Muito mais intrigantes são as três últimas músicas do álbum, quando o Paramore lida com o seu passado e o seu papel enquanto ídolos modernos de forma surpreendente.

Ainda que “After Laughter” mostre Williams explorando as nuances mais delicadas de sua voz, “Idle Worship” a mostra furiosa e cuspindo, enquanto rejeita o heroísmo que sempre projetam nela: “Você está gastando toda a sua fé em mim”. A música transforma noções bíblicas de falsa idolatria, juntamente com o medo e vulnerabilidade, em um gancho construído para ser cantado por milhares de seguidores inocentes e com os cabelos tingidos. Enquanto isso, “No Friend” é a coisa mais estranha a aparecer em um álbum do Paramore. Cantada de maneira trêmula pelo emo intelectual Aaron Weiss, do mewithoutYou, em um riff nauseante e cíclico, essencialmente conta a história do Paramore em uma linguagem densa, referencial e quase honesta, culminando em linhas que parecem sugerir um interior covarde da banda: “Então deixe eu mostrar claramente”, Weiss explica, “Você vê uma forma inundada, eu vejo um design de camiseta/Eu não sou o seu salvador e você não é meu amigo”. Mais uma vez, este Paramore está se despindo, questionando suas próprias motivações e expondo o seu lado mais sombrio. O fato da voz de Weiss estar baixa o suficiente para ser compreendida mitiga a surpreendente verdade da música, fugindo de sua responsabilidade. Então, novamente, a inclusão desta música estranha duplica a ousadia.

O álbum termina com “Tell Me How”, que não se parece com nada aqui, ou no catálogo da banda. Com os acordes de piano em cascata, pulso vagamente tropical e palavras cautelosamente confessionais, ela se parece com os lançamentos mais recentes de Drake. Ela é lustrosa, moderna e madura. O sofrimento de Williams aqui é retratado extensivamente, é a dor do arrependimento, dos erros, da tarefa sem fim de seguir em frente. Não existem respostas fáceis, nem bodes expiatórios. Ao invés de criticar alguém que a deixou para baixo, ela responde encolhendo os ombros de forma graciosa: “Me diga como sentir sobre você agora/Oh, me deixe saber.” Williams não é todo-poderosa e ela não está mais tentando ser.

Tradução e adaptação: equipe do Paramore BR | Fonte

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