MTV: Paramore torna-se sem limites
Por em 22 de maio de 2017

A MTV publicou, na quinta-feira passada (18), em seu site oficial, um comentário sobre a banda e o álbum After Laughter. Confira na íntegra abaixo:

Paramore torna-se sem limites
Notas sobre o novo álbum da banda, “After Laughter”

No começo, Paramore era mais lenda do que banda. Em algumas cenas, eles eram na maior parte uma coleção de rumores, coletados por pessoas que ainda tinham que vê-los tocar. Quando o seu primeiro single, Pressure, de 2005, começou a rodar em rádios de rock alternativo e nas minguantes horas de festas em casa, a especulação sobre a banda foi a parte mais interessante — o mais notável conto sussurrado foi o de que todos os membros da banda tinham 13 anos de idade e haviam abandonado o ensino fundamental.

Um antigo show do Paramore era um exercício de diversão desarticulada. Era fácil de perceber que eles eram, na verdade, jovens — não de 13 anos de idade, mas não muito mais velhos. A vocalista principal Hayley Williams tinha apenas 16 anos durante o começo da banda. O que os fez uma banda tão tocável dentro da cena, foi que eles verdadeiramente encararam essa cena. Eles eram uma banda de jovens amigos, tendo o momento de suas vidas nos palcos; assisti-los fazia você se sentir como se você pudesse fazer a mesma coisa. Eles tinham uma presença de palco desigual, e parecia que mal conseguiam tocar seus instrumentos, mas eles eram jovens e ousados, então seus fogos de artifício no palco compensaram. Eles pareciam como um projeto divertido de depois da escola que se tornou ligeiramente bombástico, explodindo em um momento que foi feito para eles chegarem e desaparecerem tão rápido quanto.
Doze anos depois, Hayley Williams ainda é uma estrela. Até nos primeiros dias frenéticos da banda, isso é o que ela era. Williams é o tipo de artista que parece cair sem esforços no estrelato sem que nada pareça super zeloso ou forçado. Mais especificamente, ela sempre foi uma estrela do pop, e tem sido uma em um gênero que, na primeira parte de sua carreira, talvez não tenha sido a melhor opção para suas aspirações pop. Ela é maior que a vida e é comprometida com uma visão em constante evolução, o que explica ela ser o único membro consistente do Paramore em mais de uma década de domínio da banda.

After Laughter, o quinto álbum de estúdio da banda, mostra sua pegada no título. Nada é divertido agora, e talvez nunca foi, apesar de Williams sorrir e fazer seu caminho através da maioria dos projetos anteriores do Paramore meio-sorrindo, meio-sorridente. Nos dias pop-punk da banda, frequentemente pareceu que Williams foi empurrada para performar sua raiva em contraste com os meninos de coração partido que ficavam à frente de quase todas as outras bandas na cena. Em After Laughter, sua honestidade e seu cansaço estão conversando um com o outro. O refrão da segunda música, Rose-Colored Boy, se encaixa no tema do álbum: “Apenas me deixe chorar / Um pouco mais / Eu não vou sorrir / Se eu não quiser”.

After Laughter está encharcado em músicas ricas, inspiradas nos anos 80. Poderia ter saído três décadas atrás e se encaixaria confortavelmente. Um álbum como este é melhor feito por uma banda que não viveu completamente a era que está tentando retratar no álbum (Williams, o membro mais velho de Paramore, nasceu em 1988) — pessoas que, como eu e a maioria do público-alvo da banda, veem os anos 80 primariamente através de uma série de imagens e relíquias. Isso entrega um álbum de retrocesso feito por uma banda usando apenas nostalgia e imaginação como veículo, e não uma banda tentando apresentar uma história linear de um passado.

After Laughter só será compreendido como um álbum sombrio e talvez amargo por alguém que já comprou totalmente a “personagem” alegre de Hayley Williams de anos atrás. Cabe mencionar que Williams, se quisesse, poderia sem dúvidas partir para carreira pop solo, algo que tem sido evidente desde o segundo álbum do Paramore, Riot! (2007). Ela tem um alcance vocal flexível e de longo alcance, uma presença de palco magnética e tem uma boa habilidade técnica de escrita, trazendo veracidade e audiência para suas músicas. Liderar o Paramore pelo colarinho através de uma série de evoluções nítidas é algo que Hayley certamente gosta de fazer, mas também é algo que demanda certo sacrifício: ela é uma artista que adere às ideias, às vezes, tumultuosas de uma banda, quando poderia haver algo maior no horizonte.

Com isso em mente, After Laughter faz sentido nesse ponto de sua carreira. É o ponto alto de uma série de anos estressantes após o álbum autointitulado, lançado em 2013, que atraiu elogios da crítica e mais sucesso comercial do que qualquer outro álbum do Paramore. Em entrevistas sobre o After Laughter, Williams falou abertamente sobre como fazer um novo álbum com a banda soava como uma tarefa impossível. Assim como a banda, que, abalada pelas diferenças criativas e o estresse do sucesso, não parecia querer fazer outro álbum. After Laughter não soa como uma banda que não quer mais fazer música juntos, mas soa como uma banda que cansou de fingir alegria por causa do público, o que é muito mais refrescante. Em Fake Happy, Hayley Williams canta: “Veja, eu vou desenhar o meu batom mais largo do que a minha boca/ e se as luzes estiverem baixas, eles nunca vão me ver franzir a testa”. E parece que ela está levantando um peso de seus ombros.

Apesar da produção brilhante e arejada, o álbum está repleto de músicas obscuras sobre as minúcias da tristeza, a distância e o isolamento. Músicas como Caught in the Middle e 26 são como um update das letras sobre as ansiedades adolescentes do Paramore, reconstruídas para um público mais amadurecido. Em Idle Worship, Williams traz à tona uma pessoa famosa rejeitando a fama, convocando, na música, ideias de falsa idolatria impulsionadas pelo medo. O fio narrativo que percorre todo o álbum é a ideia de uma banda e uma artista que estiveram no trem por tempo demais e, finalmente, cogitaram um salto.

Talvez pareça triste, mas isso é crescimento – isso é realmente crescer e significa fazer um balanço da sua vida e ver quem você feriu, ou como você se machucou e aceitar as partes de você que não te parecem boas. Paramore, banda nascida em uma cena de meninos que vivem em sua segunda, terceira e quarta infância, chegou em uma bifurcação na estrada e optou por encarar de frente a ideia iminente de fazer algo que condiz com a idade adulta estampada em seus rostos, e não apenas como uma viagem performativa. Cada álbum do Paramore é melhor do que o último em conteúdo lírico, maturidade e sobriedade. E precisa haver um lugar para isso no pop, mesmo repleto de um cenário idealizado vintage e coisas em neon. É a segunda peça para o quebra-cabeça: se você vai fazer o som de uma era que você não viveu, você tem que, pelo menos, contar histórias que você presenciou. Paramore se tornou uma banda sem limites. Nada é superficial ou artificial. Não há medo que seja sagrado demais para compartilhar.

A última música do álbum é Tell Me How, uma balada exaustiva e cheia de piano, com letras vagas sobre arrependimento e também sobre seguir em frente. Williams, diante de um “você” não identificado, exige respostas: “Diga-me como me sinto sobre você agora”. Em contexto com o resto do álbum, é perfeitamente possível que Williams esteja aqui, no final de tudo, falando com uma versão antiga de si mesma – uma das muitas versões que ela precisou ter para chegar até aqui, perto dos 30 anos de idade, com mais perguntas do que respostas.

Segunda-feira (15 de maio), foi o aniversário de 10 anos da música “Misery Business”, do Riot! Esse é um dos singles mais explosivos e emocionantes, aquele que fez de Hayley Williams uma estrela. O conteúdo da música, assim como um monte de outras músicas da época pop-punk, é sobre se vingar de uma mulher maquiavélica. Misery Business ainda é uma boa música para se cantar em um fim de noite, mas não envelheceu muito bem, especialmente em contraste com as músicas atuais do Paramore. Mas fazia sentido na época: Williams e seus companheiros de banda eram adolescentes, e a música era uma brincadeira com o que parecia um drama de escola, junto com o medo de uma mulher que não está de acordo com os padrões do narrador, ancorada por letras amargas: “Segundas chances, elas nunca importam/ As pessoas nunca mudam”.

No dia do aniversário, Hayley Williams tuitou sobre o assunto. Primeiro, um GIF: ela no clipe de Misery Business, com o cabelo laranja e amarelo caído em seu rosto, sorrindo um pouco para a câmera e a palavra RIOT escrita em diferentes tamanhos na parede. Então, o tweet em si: “Incrível o quanto se pode mudar (principalmente por dentro)! Feliz 10 anos de Misery Business e obrigada pelas lições de vida”.
Hayley Williams não é quem ela era. Com alguma sorte, depois de uma era, nenhum de nós é.

Tradução: equipe do Paramore BR | Fonte

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