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Paramore concede entrevista intimista ao The Guardian

Paramore concedeu uma intensa entrevista ao renomado jornal britânico “The Guardian”. Durante o bate papo, a banda relembrou os altos e baixos de suas formações, falaram sobre o quase término da banda com a saída de Jeremy Davis e também sobre suas incertezas e expectativas para o futuro. Confira a tradução completa:

A hospitalidade sulista não é brincadeira. Chegando em Nashville, parece que eu entrei em um universo paralelo. Todo mundo que eu encontro tem aquele jeitinho caipira que me faz sentir, ao mesmo tempo, apreciado e levemente enjoado. No táxi, saindo do aeroporto, eu digo: “O tempo está legal”, e o motorista responde: “Bem, obrigado, nosso objetivo é agradar”, como se os moradores tivessem se reunido e decidido que seria um dia de céu limpo e 24 graus. Na minha primeira noite em um bar de música country, um fã de hóquei bêbado vem até mim, me agarra pelos ombros e se fica tão próximo do meu rosto que nossos narizes se tocam. Eu tenho certeza que ele está prestes a me socar quando ele sussurra: “Olha, eu percebi que você não é daqui então deixa eu te dizer, você precisa provar o sanduíche de carne frita. Você nunca provou nada igual”.

Hayley Williams, a vocalista do Paramore e a única na banda desde a formação original, se mudou para cá com apenas 13 anos quando sua mãe e padrasto se divorciaram. Durante as primeiras fases pop-punk da banda, ela era conhecida por seu cabelo colorido que sempre mudava de cor e suas roupas da Hot Topic, mas, hoje ela adentra a cafeteria chique que escolhera com o cabelo loiro platinado e uma jaqueta de couro. Ela poderia ser facilmente confundida com uma daquelas estrelas atuais do country que migram de volta para a cidade todo ano para gravar em seus estúdios famosos.

O Paramore foi formado quando Williams tinha apenas 15 anos. Ela tem 28 agora e, basicamente, todos os anos durante esse período foram intranquilos. Estranhamente, para um grupo de rock com uma criação cristã e músicas de grande alcance que nunca geraram muita polêmica, a banda parece estar constantemente enrolada em dramas internos magnânimos; seria impossível tentar recontar todos os altos e baixos e mudança dos integrantes do Paramore nas pequeninas páginas do Guide.

O álbum auto-intitulado deles, lançado em 2013, foi de um sucesso sem igual: alcançou o número 1 nos Estados Unidos e no Reino Unido, garantindo-lhes uma vaga como co-headliners no Reading and Leeds e ainda lhes trouxe um Grammy pelo single Ain’t It Fun. Eles haviam se tornado uma das maiores bandas do mundo, mas ainda assim era difícil superar uma amarga carta-aberta deixada em 2010 por Josh Farro, ex-namorado de Williams e antigo guitarrista da banda, e seu irmão, Zac. Ambos saíram da banda por conta do comportamento controlador de Williams e da gravadora. Uma das acusações mais fortes sendo o fato de que o pai dela constantemente ameaçava acabar com toda a banda se eles reclamassem de qualquer coisa, deixando claro que eles eram apenas músicos de aluguel, pegando carona no sonho da Hayley.

Os membros restantes – Williams, o baixista Jeremy Davis e o guitarrista Taylor York – estavam passando por dificuldades, mas disseram ao Guardian à época que a nova configuração era “a melhor coisa que já poderia ter acontecido” e que agora sim eles estavam felizes e completos enquanto banda. Parecia que a saga estava finalmente chegando ao fim e uma nova era como um trio triunfante havia acabado de começar.
Mas as coisas não saíram conforme o previsto. Dois anos atrás, Davis saiu da banda e está processando-os em um tribunal federal pedindo por uma maior parte dos royalties e dos lucros das turnês. Ele alega que Williams havia concordado que os três iriam dividir a autoria em todas as 17 músicas do último álbum. Mas, no fim das contas, Williams e York foram creditados enquanto escritores em todas as músicas enquanto David foi creditado apenas em “Interlude: Holiday”, uma simples canção levada no banjo de apenas 70-segundos.

Taylor York permaneceu na banda e, sete anos depois de sair, Zac Farro está de volta ao grupo. Ambos seguem Williams para dentro do restaurante e nós nos sentamos comendo omeletes e comparando nossos vícios em cafeína; você jamais saberia que, em algum momento, houvera animosidade entre eles.

Momentos depois, o irmão mais novo do Farro, Jonathan, liga para ele via FaceTime para dizer que vai ser papai de novo. Farro não consegue acreditar. Ele grita. Ele passava o telefone para mim. “Mazel tov”, digo. Ele passa o telefone para Williams. “PRIMEIRO DE ABRIL!”, grita Jonathan e todos começam a gargalhar. É essa a vibe aqui: pessoas tão confortáveis umas com as outras que seus irmãos podem zoá-los com notícias falsas.
Mas como? Como você pode ser tão chegado em pessoas que o insultaram publicamente depois de uma grande separação? A carta-aberta dos Farro acusava o pai de Williams de ameaçar os membros e criticava Williams por escrever letras que eram contra Deus. Era tudo isso apenas uma mentira? Ou Zac Farro de fato pensava que era verdade à época, mas mudou de opinião?

Ele se desfaz de toda essa história insinuando que ele teve menos a ver com a carta do que parecera. Farro tinha apenas 20 anos naquele período e, de alguma forma, culpa o irmão mais velho pela maneira como as coisas aconteceram. “Eu sou uma pessoa muito leal à família e eu os amo mais do que tudo”, ele diz. “Eu fiquei ao lado do Josh durante várias coisas sobre as quais minhas opiniões não contavam tanto quanto a dele… Alguns diriam que eu vivi nas sombras dele por um tempo e, naquela época, eu estava percebendo isso. Nosso comportamento ao sair da banda era bem diferente”.

Os outros dois membros concordam balançando a cabeça, sugerindo que fora Josh, ao invés de seu irmão mais novo, que tinha grandes problemas (e rapidamente acrescentam que Josh estava apoiando bastante a volta de Zac). Farro diz que parece que a confusão aconteceu em outra vida. “É como aquele podcast Serial. Sabe, aquele primeiro com Adam Syed?” ele pergunta. “Começa dizendo: tente lembrar o que você fez quando era adolescente, tenta lembrar o que aconteceu 10:30 de uma manhã de quinta. É impossível. Em uma semana você esquece as coisas que acontecem.”
Talvez, então, a rixa com os Farro seja apenas uma memória distante mas a ausência do antigo baixista Davis ainda paira sobre eles. Entretanto, por conta dos procedimentos legais ainda em curso, a banda diz que eles não podem discutir porque ele saiu, ou a disputa pelos royalties, nas entrevistas.
“O que eu direi é que é uma baboseira estarmos sendo processados” Williams suspira. “Eu não estive OK por um tempo; talvez ainda não esteja.”

Taylor York diz que nem ao menos sentiu a dor da saída do Davis porque ele estava tão acostumado com a dor do Paramore. “Eu estava dormente”, ele diz. “Era apenas mais um exemplo de estar numa banda e de ser muito difícil, e de me sentir mal sobre isso. Nós temos o trabalho mais legal, mas por que tem que ser tão excruciante?”
Obviamente, eu digo, não tem que ser tão excruciante. Se estar no Paramore é tão estressante, por que não simplesmente parar de vez?

“Ah, sim” diz Williams, confiante. “Dois anos atrás eu perguntei ao Taylor se não podíamos começar uma banda nova. Eu estava tão cansada dessa merda. Eu disse que deveríamos apenas tentar algo novo, dar um nome novo”
York concorda: “Eu quis sair dessa banda tantas vezes. Enfrentando todos esses conflitos e todo esse drama ao longo dos anos, eu estava tipo: ‘Cara, eu acho que a gente consegue continuar, mas não vale a pena se não quisermos estar aqui.”

Então, se os dois membros restantes queriam que a banda acabasse, por que não acabou? Nenhum deles consegue me dar uma resposta direta acerca de por que o Paramore decidiu escrever outro álbum.
“Honestamente, eu não sei” diz Williams quando eu digo que tem que ter algum motivo, antes de tentar se explicar. “Nós, por algum motivo, continuamos nos encontrando e escrevendo e pouco a pouco as músicas ficaram melhores e nós ficamos mais inspirados a continuar”.

As músicas que eles escreveram juntos nada parecem com as antigas batidas emo da banda. Algumas você poderia enxergar como uma evolução das coisas mais pop do último álbum, mas, acima de tudo, eles devem muito ao rock dos anos 80 de Paul Simon e Dire Straits. Não é uma cópia barata das músicas dos anos 80, porém; as músicas são ricas e inteligentes, que qualquer superstar pop mataria para ter. Em particular, o primeiro single Hard Times, com sua bateria Lionel Riche, vocais trabalhados em camadas e breakdown no estilo Daft Punk, você pode facilmente imaginar como sendo o maior hit deles até hoje.

Ainda assim, mesmo com um antigo amigo de volta e um período fértil de criatividade, eu continuo frustrado com a falta de explicação da banda acerca do que continua dando errado. Os nomes da música no novo álbum, After Laughter: “Forgiveness”, “Fake Happy” e “Rose-Coloured Boy”, com seu refrão “só me deixa chorar um pouquinho mais”, demonstram uma banda para quem todo dia é um esforço.

Eu instigo eles a pensar no que infeccionou seus relacionamentos. A cautela deles em falar é culpa em parte, eu acho, do fato de que eles são todas dessa cidade que, pelo menos em público, parece um lugar onde se você não tem algo gentil a dizer você não deve dizer nada. Às vezes, essa bondade sulista pode ser uma barreira para as discussões sobre o que realmente está acontecendo, algo que eles admitem ter sido um problema no passado.
“Nós crescemos em um ambiente muito conservador” explica York “onde você sempre deveria dar espaço as pessoas porque você não quer conflito. Assim, se algo te irritasse, você não deveria falar sobre”. Mas a maior mudança em suas vidas é aquela mais óbvia: idade. As primeiras 10 ou 12 vezes que o Paramore teve um embate, eles eram adolescentes. Quando alguém estava infeliz eles fechavam a cara ou, pior, usavam suas redes sociais para fazerem seus sentimentos conhecidos. Essa angústia exposta foi importante para o sucesso da banda com seu público jovem, mas também foi um sinal da sua falta de capacidade para lidar com as coisas dando errado.

“Se tem algo intangível que nenhum de nós consegue realmente entender e que é diferente sobre esse álbum, eu sinto como se houvesse muita aceitação das coisas não estarem exatamente… ótimas” diz Williams. “Todos nós perdemos aquela coisa adolescente de tentar nos agarrar firmemente a alguém, sem perceber que está sufocando essa pessoa. Quando você se torna um adulto você segura ao outro largamente, para que todos possam agir por conta própria. Nós passamos mais tempo juntos rindo fazendo esse álbum e igualmente chorando juntos por coisas que aconteceram e que nunca lidamos com” Esse é certamente um processo que eles ainda estão vivendo, mesmo nessa entrevista. Nesse ponto, a cafeteria já está tão cheia que nós mudamos para uma sala mais privada. Está começando a parecer como aquela parte em Mean Girls quando todos falam sobre seus sentimentos.

Em alguns momentos, o trio retoma aquelas trivialidades vazias sobre como tudo está tão bom. Em determinado momento, Farro diz: “Eu costumava falar que ‘Olha, o futuro está tão distante’, e agora eu penso ‘Espero que eu consiga manter o ritmo porque o futuro está logo na esquina.’” Mas em outros momentos, uma espécie de escuridão emerge. Eu pergunto sobre o que eles pensam sobre como estarão nos seus 50 anos, considerando que a banda é tudo que eles conhecem. Isso parece desestabilizá-los.

“Se eu penso no meu futuro, é bem obscuro,” diz York. “Eu não consigo nem ir a esse lugar na minha mente. Eu sei que parece estranho mas eu sinto ansiedade e medo o suficiente penso em amanhã ou nesta tarde.”
Três horas após nos encontrarmos, um clima um tanto tenso paira na sala. Eles são amáveis e gentis e dizem “obrigado pela entrevista”, mas é aparente que para a banda funcionar daqui para frente eles não podem simplesmente fingir que estão bem; eles precisam dizer o que realmente sentem.

“No passado, nós tínhamos como objetivo forçar todos a enxergar o que queríamos que eles vissem. Sabe: ‘Somos nós três agora, e estamos tão bem!’” diz Williams. “E eu não acho que nós tenhamos esse plano agora. Estranhamente, eu acho que estamos em um lugar melhor enquanto banda do que jamais estivemos. Acho que, no passado, isso teria nos irritado. Não você, mas todo esse trabalho em cima disso; eu acho que agora é normal. Quase faz parecer menos importante do que realmente é porque nós não estamos resistindo tanto a isso.”

Subitamente, eles tem que ir embora. Eles entram no carro de Williams e dirigem por quatro horas de volta para Atlanta onde eles conseguiram arrumar ingressos para o show do Radiohead. Eles não farão reuniões ou nada do tipo lá. São apenas amigos indo assistir uma banda. Williams manda um email no dia seguinte, me contando sobre a playlist da viagem de carro deles e quão animados eles estavam. “No Surprises foi incrível de ouvir ao vivo,” ela escreve “porque eu me lembro de ouvir essa música, sentada na parte de trás do carro do Josh com Zac e Taylor e alguns outros amigos enquanto assistíamos os fogos de artifício do 4 de julho em 2003”.

É aí que eu entendo porque eles continuam a levar o Paramore a frente. Porque as pessoas que ficaram na banda, aquelas disponíveis a enfrentar entrevistas e resolver seus problemas, são aquelas cuja amizade superou todas as dificuldades que encontrou.

O novo álbum do Paramore, After Laughter, sai 12 de maio; o novo single, Hard Times, já está disponível.

Fonte | Tradução e adaptação: Equipe do Paramore BR.

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