New York Times: Paramore surge com velhos rostos e um novo som
Por em 21 de abril de 2017

Paramore concedeu uma entrevista ao renomado jornal americano “New York Times”, na qual falou sobre o seu quinto álbum em estúdio “After Laughter”, que será lançado no dia 12 de maio. Durante a conversa, a banda fala sobre a sonoridade, as dificuldades e incertezas à cerca da banda e de sua continuidade. Confira abaixo a tradução e as fotos publicadas pela edição:

Paramore surge com velhos rostos e um novo som

NASHVILLE – Hayley Williams precisava de uma pausa do “cabelo estilo Paramore.”

Por mais de uma década, enquanto ela se estabelecia como uma das mais dinâmicas cantoras de rock do mainstream da sua geração, a sra. Williams foi reconhecida pelo seu dramático corte de cabelo com franja repicado com navalha em explosões de cores violentas, tipicamente os mais gritantes tons sintéticos de vermelho, laranja ou rosa. “Eu tive um corte de cabelo que poderia ter matado você”, ela disse sobre o look que a ajudou a fazer dela um ícone do “punk comercial” da Warped tour.

Ainda como sua banda, Paramore, [ela] trabalhou para transcender os dogmas restritivos de gênero através de quatro álbuns de crescente ambição, levando o momento do angustiado pop-punk do MySpace para o Grammy e para o chart da Billboard, e grande parte disso foi pela força da voz da Sra. Williams, a vocalista, agora com 28 anos, que começou a se sentir refém de um visual “marca registrada”.

Ano passado, olhando para baixo com um profunda depressão em meio a mudanças nos integrantes da banda e atormentada por isso – e questionando a si mesma sobre os pesados fardos da vida adulta –  Sra. Williams optou por uma “lacuna em branco”, ela diz, sobre seu cabelo loiro platinado debaixo de um gorro.  

“Você pode correr na fumaça do começo da adolescência o quanto você quiser, mas eventualmente a vida vai te bater duramente”, explica Sra. Williams, uma poderosa presença que mal passa de um metro e meio de altura, no mês passado quando falou pela primeira vez sobre o tumultuado período desde o último álbum do Paramore, em 2013. “Eu nem sabia se eu queria fazer outro álbum”, ela diz. “Teve um momento que eu não sabia se isso ia acontecer. Eu queria que acontecesse, mas eu não sabia como nós íamos fazer isso.”   

Paramore, de alguma maneira, emergiu novamente. No dia 12 de maio, a banda lançará “After Laughter”, seu quinto disco, introduzindo uma outra linha – cada álbum do Paramore tem a participação de uma combinação diferente de membros ao redor da Sra. Williams – e, mais notavelmente, um novo som. No lugar de maciços, distorcidos e energéticos acordes e hiperativos riffs da adolescência, o Paramore se lançou em uma textura mais limpa, rítmica e com flertes de sintetizadores dos anos 70 e 80, fruto de sua recente obsessão com Talking Heads, Tom Tom Club, Cyndi Lauper e Blondie.

Mas enquanto o grupo tem funcionado bem na sua própria maneira híbrida, – “muito rock pra ser pop e muito pop pra ser rock”, disse o guitarrista e parceiro majoritário de composição de Hayley, Taylor York, – o Paramore retorna ao top 40 com ainda menos guitarra do que a última música a alcançar esse posto (“Ain’t It Fun”, que ganhou um Grammy de “Best Rock Song” e foi o maior single da banda nas paradas).

No pop, esse flashback do som dos anos 80 foi tentado diversas vezes e com sucesso por Taylor Swift, Carly Rae Jepsen e Jason Derulo, mas não foi, ultimamente, tentado com credibilidade por uma banda. E o Paramore pode ser a primeira: Sra. Williams, com o cabelo cômico ou não, continua sendo o foco, suas melodias e refrões muito cativantes estão mais grudentos e magnéticos do que nunca, quebrando barreiras de gêneros.

Como uma líder mulher, a sombra da influência de Williams somente cresceu enquanto estava afastada da música, com o rock vibrante, especialmente originado do punk, aumentando o número de bandas lideradas por mulheres que não tem medo de tocar.

Bethany Cosentino, a lider do Best Coast, chamou Hayley de “mentora da indústria”, apesar de ser mais velha que ela. “Ela é a pessoa mais humilde que eu conheço”, disse Cosentino. “Ela é uma grande estrela, mas num dia qualquer em Nashville você a vê atrás do palco. Ela ainda preza por suas raízes punk”.

Hayley Williams rejeitou a insinuação de que ela representa para a nova geração de mulheres na música o que Gwen Stefani do No Doubt e Shirley Manson do Garbage eram para ela, insistindo que ela é inspirada em atos muito mais jovens como Cherry Glazerr, Tacocat e Bleached.

Mas ela também lembrou da sua determinação ao comandar o Paramore na época em que a cena era dominada por homens. “Se tivéssemos um projeto de lei com todos os caras que eram duas vezes mais velhos que nós, eu queria ser melhor do que qualquer um deles”, disse Williams. “Eu não me importei se eles tinham um pênis ou não. Eu tinha que ser grande no meu trabalho”.

Musicalmente, sua banda “pode ser o que quiser e então, quando Hayley entra, dá vida ao Paramore”. Disse York, 27, acrescentando que seus recentes tons de guitarra e fraseamentos foram inspirados pelo Afrobeat e outros grupos internacionais. “Nós chegamos a um ponto com a nossa nova música no qual realmente não queremos mais fazer headbang.”

Além de uma nova direção, “After Laughter” é uma reunião parcial para o grupo que, durante a gravação, trouxe de volta o baterista e membro fundador da banda: Zac Farro. Formada em 2004 como uma banda adolescente de garagem em Franklin, Tennessee, Paramore se quebrou quase sete anos atrás, quando Zac e seu irmão mais velho, Josh, então o compositor principal, teve um ataque de grosseria, apelidando a banda de “o produto que se tornou tudo sobre Hayley”. (Uma entrevista do Paramore em 2011 para a MTV é um documento angustiante de um período estranho da banda).

O retorno do Sr. Farro foi se desenvolvendo gradualmente depois de um reavivamento pessoal com o Sr. York, seu melhor amigo de infância, o que se tornou uma necessidade porque a dupla continuou convivendo socialmente.

“Em cada ano da minha adolescência eu estava nessa banda, em turnê”, diz Sr. Farro, 26, um pateta adorável cuja presença madura contrasta com seus companheiros de banda mais marcantes. “Eu precisava de um botão de recomeço”.

Carlos de la Garza, que trabalhou como engenheiro de áudio em “After Laughter” e no seu antecessor “Paramore”, se refere aos senhores York e Farro, com quem passou um tempo viajando pela Nova Zelândia e fazendo sua própria música, como “verdadeiros irmãos de espírito.”

O que resultou dessa parceria repaginada foram faixas instrumentais muito regozijantes, até dançantes, que fizeram a Sra. Williams dar uma reviravolta na cabeça deles. “Tinha um pouco de um lado negro rastejando dentro da psique da Hayley”, diz o Sr. de La Garza. “Alguma coisa estava devorando-a por dentro, e ela foi hábil de usar muito disso como combustível para as letras.”

Apesar da diversão, a energia colaborativa que surgiu da reconciliação com o Sr. Farro, Sra. Williams concordou que “tinha uma nuvem negra” em cima do processo de composição e gravação advinda de problemas de relacionamentos pessoais e profissionais.  

Nos últimos dois anos “muita vida aconteceu”, disse Sra. Williams, que casou-se com o companheiro também músico Chad Gilbert, do New Found Glory, em fevereiro do ano passado. Logo antes disso, o Paramore anunciou que tinha rompido com o seu baixista de longa data, Jeremy Davis, quem em uma ação legal trouxe alegações que há muito tempo perseguem a banda, em especial a Sra. Williams.

Enquanto o Sr. Davis afirma em documentos judiciais que era um parceiro criativo, com direito aos lucros adicionais de royalties de letras de músicas, merchandise e concertos, os registros preventivos em nome da Sra. Williams dizem que ela é o único membro oficialmente assinado com a Atlantic Records, deixando o restante do Paramore para ser pago como funcionários. (Advogados da cantora observaram que “ela queria promover um sentimento de camaradagem dentro da banda e por isso os salários dos membros incluem uma parte dos lucros de Williams”).

Derek Crownover, o advogado do Sr. Davis, disse em um anúncio: “Jeremy Davis não saiu da banda”, adicionando que o baixista “tampouco iniciou uma ação legal”. Enquanto o caso continua, o Sr. Crownover demonstrou esperança para uma solução amigável em breve.

“De novo?”, se perguntou a Sra. Williams pondera sobre o destino do grupo. “Eu rezava até meus joelhos sangrarem”, ela diz, sabendo que o Paramore tem vezes que parece mais uma novela do que uma banda.

“Nós tínhamos perdido mais um membro – a mesma velha história desde quase o primeiro dia”, ela continua. “Isso me fez questionar tudo – eu estou fazendo algo errado? Você lê as coisas que as pessoas dizem e às vezes você começa a pensar ‘oh, eu devo ser algum tipo de diva má.’ Eu sei que que essa não sou eu, mas isso causa vários auto-questionamentos.”

Sra. Williams, que nunca foi muito de canções de amor, desafiou sua própria inquietação em um álbum preocupado com traições, desapontamentos e arrependimentos. “Hard Times”, a música de abertura do álbum e o primeiro single, começa com versos como estes:  

Tudo o que eu quero
É um buraco no chão
Você pode me dizer quando estiver tudo bem
Para eu sair

Em outro momento, ela canta: “Eu não consigo pensar em ficar velha/ Isso só me faz querer morrer”. Além disso, outros destaques do álbum são “Forgiveness” (pequena amostra da música: “Eu não posso fazer isso ainda”), “Fake Happy”  e “Grudges”.

“Eu não poderia colocar nesse álbum coisas como ‘a vida é ótima, tudo está legal, venha se divertir comigo’”. E é verdade que, mesmo com as acusações de que uma grande gravadora está se envolvendo na carreira do Paramore, a banda escreveu suas próprias músicas frequentemente amargas que renderam álbuns de platina sem recorrer à máquina pop, embora eles tenham dito que a gravadora já tentou trabalhar com hitmakers do momento. “Nós, de alguma forma, ganhamos liberdade”, diz York, membro mais “suave” do Paramore. “Eu não me imagino subir no palco e tocar uma música de Max Martin”, ele relata. “Se chegássemos a esse ponto, poderíamos parar”.

Agora, enquanto o Paramore segue depois de reestabelecer suas bases do pessoal para o brilho público de uma fã base impaciente e obsessiva, seus membros estão abertamente ansiosos sobre como isso será retratado e percebido. Em uma noite dessas, o trio foi a um jogo de hockey da sua cidade natal, Nashville Predators, algo que eles não faziam como um grupo desde a infância. Excessivamente graciosos a todos que os reconheciam, uma energia ansiosa porém amigável entre a banda, não muito diferente de ex-recém reconciliados ao redor de velhos amigos céticos.

Nos momentos calmos, Sr. York, Sr. Farro e Sra. Williams tiraram comida dos dentes um dos outros e refugiaram-se na segurança das piadas internas. Eles não deixaram de parecer francamente satisfeitos. “É por isso que você passa por momentos difíceis, para que possa ter esses momentos em que você tem orgulho de si mesma, orgulho de suas escolhas e de seus amigos”, disse Sra. Williams.

“Eu tenho um diário público da minha vida”, ela adicionou, “e eu me sinto útil por causa disso.”

 

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Fonte | Tradução e adaptação: Paramore BR

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