Hayley concede entrevista intimista ao Behind The Brand
Por em 18 de março de 2017

Recentemente Bryan Elliott entrevistou Hayley para o Behind The Brand, seu programa no YouTube direcionado a “empreendedores, pequenas empresas e aqueles que escolhem ousar com grandeza”, como descrito em seu próprio canal. Apesar do programa ser direcionado a negócios, Hayley teve a oportunidade de se abrir sobre suas dificuldades pessoais e momentos difíceis que passou no Paramore nos últimos anos! Confira a entrevista traduzida abaixo.

H: Oi, sou Hayley, do Paramore, e você está assistindo “Behind the Brand”!

E: Oi, todo mundo! Eu sou Bryan Elliott, bem-vindos a mais uma edição do “Behind the Brand”, hoje eu estou aqui com a incrível Hayley Williams! Hayley, obrigado por vir!
H: Obrigada por me receber!

E: Eu geralmente pergunto às pessoas como elas conseguiram esse emprego…
H: Ah cara, isso começou há muito tempo, eu tinha 12/13 anos quando eu entrei pra banda e nós éramos apenas crianças na escola, sabe? Eu venho de uma cidade muito pequena em Mississippi e eu era uma das únicas pessoas na minha escola que realmente tinha interesse por música, então quando eu tive idade suficiente para entender as coisas, eu sabia que queria cantar/escrever músicas e tocar com meus amigos numa banda. Eu queria fazer parte de algo… Eu não fazia até eu me mudar para Nashville, onde conheci meus amigos que também escreviam e aconteceu essa revelação para mim em conhecer outras pessoas da minha idade que queriam fazer as mesmas coisas que eu e eu me senti menos sozinha, sabe? Então nós não perdemos tempo, nós começamos depois da escola, toda quinta-feira nós íamos à escola, porque tinha toda essa coisa de escola em casa…

E: Quantos anos você tinha nessa época?
H: Eu tinha tipo 13 anos… Eu estava na sétima série. Zac, nosso baterista, tinha 11, mas era uma coisa séria, era como se fosse uma carreira pra gente. Acho que nosso primeiro show foi em um evento da escola.

E: Vamos voltar na época que você tinha 12/13 anos, quando estava apenas começando. Você sabia que queria ser profissional?
H: Sim, acho que eu sabia. Eu não sabia o quão possível era, eu só pensava que eu iria me divertir fazendo isso. Eu sentia que… Eu tinha visto filmes como “The Temptations”, ou até “O Mundo das Spice Girls”, e eu pensava “todos eles estão se divertindo com seus amigos, fazendo música, é a coisa deles, é o trabalho deles” e eu queria isso, eu queria sentir a coisa do “nós contra o mundo”, que é quando se começa uma banda e tem esse “jogo” inocente na mentalidade e nós começamos desse jeito e a próxima coisa que soubemos era que estávamos em uma banda, na estrada.

E: Então você estava escrevendo músicas ou você era uma aspirante a cantora, como na sua igreja, ou cantando nas esquinas, no chuveiro? Como isso começou?
H: Eu cantei na igreja, mas eu era muito tímida quando era criança, meus pais se separaram muito cedo e eu era filha única por muito tempo até meu pai, no segundo casamento, ter minhas irmãs e eu sempre amei música. Eu tinha essa crença que eu poderia fazer isso mas eu teria que ser “aprovada”… Eu não sentia que tinha que provar pra alguém, eu meio que sabia que poderia acontecer, então eu cantei na igreja algumas vezes, eu tinha uma amiga que cantava comigo em alguns eventos aleatórios de música que eu ia se tivesse coragem, mas não era nada até eu ter começar a escrever músicas. Eu acho que escrever me deu… Eu percebi que ter uma voz e ter minha própria mente… Porque é uma coisa imitar suas cantoras favoritas e cantar no carro mas é outra coisa ter sua própria voz.

E: É… O que você acha que a música tem que cura a gente…? Soa para mim que você teve um momento triste com o divórcio dos seus pais e a música te ajudou a passar por isso…
H: Sim… Ser uma criança e ter seus pais se separando não é tão incomum mas ainda é difícil, sabe? Eu acho que para mim, eu sempre gostei de músicas tristes e não soube o porquê mas eu acho que peguei uma parte da mágoa que estava tendo na minha família, eu não sabia como dizer isso pra mim mesma, – eu tinha uns 6 anos -, mas todas essas músicas disseram, e então essas foram as que eu me identifiquei desde cedo. Sabe, quando eu comecei a escrever existiam várias coisas bem tristes e era muita injustiça e dores, muitas dores no começo do Paramore. Mas… Eu acho que é uma cura porque é um espaço que você tem.. Se você é um escritor você tem um momento consigo mesmo para pensar como você se sente sobre alguma coisa. É ininterrupto, é seu próprio momento com seus sentimentos, para fazer as pazes com eles.

E: É meio purificante, né? Você está botando seus sentimentos pra fora em forma de letras, ou de melodia, de harmonia…
H: Eu acho que a coisa mais legal pra mim sobre escrever uma música é alimentar meus sentimentos em uma melodia ou em um ritmo, porque eu sou uma cantora muito rítmica, muitas das coisas que me inspiram como uma escritora são ritmos sincopados e eu tenho sorte de estar numa banda com duas pessoas que tocam bateria e são incríveis e eu toquei bateria quando era mais nova também, e isso é uma coisa que quando eu escrevo eu ouço pra ver como posso encaixar minhas palavras… Algumas das músicas que nós escrevemos antes eu acabei meio que fazendo rap, em Misery Business foi um dos nossos primeiros sucessos e tem muitas palavras, mas era tão bom dizê-las nesse ritmo, que dava mais poder às palavras, e eu acho que isso é realmente bom.

E: O que vem primeiro pra você: a letra, o ritmo ou a melodia?
H: Com o Paramore a gente escreve a música primeiro, e eu aprendo ela no violão, no piano, e eu meio que vivo isso sozinha porque eu tendo a escrever palavras em segredo porque, como eu disse, esse é o meu espaço para sentir algo.

E: Você tem tipo um diário?
H: Sim, parece melhor escrever fisicamente as palavras.
E: Você é como o Eminem, né? Você tem o seu livro e livro de notas…
H: As pessoas comparam… Eu e o Eminem… Muito frequentemente… Brincadeira! Mas eu gosto de escrever por causa da libertação tangível, eu escrevo tudo.
E: Às vezes, quando está viajando, tomando um café ou qualquer coisa e pensa em algo, é bom!
H: Sim! Quando precisa anotar…
E: Tive escola em casa como você também, gosto de guardar, de ter minha listas de coisas pra fazer, uma lista física, gosto de riscar…
H: Você não acha que quando escreve a lista de coisas pra fazer você faz as coisas, tipo, melhor, do que se tivesse digitado? Eu sou assim.
E: Eu aprendo quando faço, então a escrita me faz lembrar melhor de alguma forma.
H: Eu também, sou da mesma forma. Eu definitivamente gosto, quando estou escrevendo letra de música e eu não gosto de algo, eu gosto de riscar por cima, ver aquilo riscado em vez de deletar, eu rabisco sobre tudo quando estou riscando (risos), mas escrever fisicamente parece ser melhor.

E: Nós estávamos conversando fora das câmeras um pouco sobre Karen Carpenter… Quem são algumas das suas outras inspirações?
H: Ah, cara… Eu sinto que eu fui sortuda… Meus pais eram muito jovens quando me tiveram então eu pude escutar muita música legal quando criança e eu posso ter referências de coisas que muitas vezes as pessoas que são um pouco mais velhas que eu têm e eu me sinto sortuda por isso, então… Eu escuto muito Chaka Khan e rock clássico com o meu pai, claro, mas… Eu me sinto muito sortuda também por minha avó gostar de soul e funk… Então eram tipo Chaka Khan, The Temptations, ou um monte de Motown [gravadora de artistas como Michael Jackson e Stevie Wonder], até Elvis…

E: Legal! Você é pequena, mas você tem essa incrível projeção, você tem essa voz incrível que me lembra uma dessas vozes potentes como da Chaka Khan ou alguma dessas vozes incrivelmente dinâmicas e potentes. É como se fosse o seu alter ego? Como você disse, você é um pouco introvertida mas fica aberta no palco? Como funciona?
H: Sim… A gente ficou dois anos fora agora, apenas escrevendo, e eu sinto que eu consegui conhecer meu lado introvertido muito mais do que os outros dois anos que eu tive porque não tive a chance na estrada porque estávamos cercados de muitas pessoas e eu acho que sou boa nisso. Não é que eu ache que sou melhor em uma sala sozinha, eu amo ouvir a história das pessoas e eu gosto de me engajar e me conectar e isso é uma coisa bonita em estar em uma banda que viaja e conhece fãs que se tornam meio que sua família… E, sim, eu acho que no palco eu tenho uma chance de deixar “ela” sair, sabe? Deixar o meu lado que… Eu realmente acho que preciso dessa expressão, preciso completar as coisas que eu escrevo no meu diário e as coisas que eu escrevo para músicas é uma maneira de expressar os sentimentos mas para expressar totalmente acho que é performando, e realmente exorcizando esses demônios.

E: Muitas pessoas que assistem esses vídeos são criadoras, são artistas, são futuros artistas, eles têm algum tipo de empurrão, ou um sonho… Vamos tornar isso meio pessoal e falar sobre algumas coisas que você fez errado em vez de certo e falar algo para os telespectadores tipo “segure firme, isso leva tempo”, qualquer que seja o seu conselho para jovens que estão começando.
H: Cara… Nós começamos bem jovens e eu acho que uma coisa que eu… Eu não faria nada diferente porque eu acho que estou agora, sentada nesse banco, porque fiz as coisas que jeito que fiz e a banda fez as coisas do jeito que fizemos, mas eu desejo… De certa maneira eu fui… Um pouco mais destemida sobre a minha posição antigamente porque, sabe, não havia muitas garotas no meu cenário quando éramos crianças e tinha várias meninas para nós admirarmos, tinha Gwen Stefani, tinha Brody, do The Distillers, e Shirley Manson, e todas essas incríveis mulheres, Debbie Harry, Cindy Lauper, mas eu não tinha ninguém da minha idade ao redor de mim que fosse mulher, estava numa turnê com meninos com o dobro da minha idade e eu acho que não mostrei isso no palco mas eu duvidei muito de mim, e senti essa solidão se transformar em algo que não deveria.

E: Duvidou de você nas suas habilidades? Se você podia fazer, ou…?
H: Eu apenas duvidei se as pessoas me levariam a sério ou não.
E: Como uma síndrome do impostor [quando você não se sente merecedor do que conquista]?
H: Sim!! Nós estávamos falando sobre isso, sim!! Síndrome do impostor, eu tenho, eu tenho síndrome do impostor, eu vou apenas aceitar isso. Porque eu acho que estou pronta para superar isso mas tenho 28 anos e estou em uma banda por 13 anos, e eu estou percebendo que é o que é, eu sinto que talvez não fiz o suficiente para merecer o que eu ganhei. Alguém vai me pegar e perceber que não é real, não sei…
E: De onde isso vem? É criação da mente ou…
H: Eu gostaria de saber de onde a síndrome do impostor vem porque…
E: Eu conheço muitas pessoas que lutam com isso e eu também, às vezes eu tenho que me beliscar, “isso é incrível, eu estou realmente aqui, com você?”…
H: É…
E: E eu acho que provavelmente várias pessoas que estão assistindo se identificam com isso. É uma coisa que a gente faz com a gente mesmo? É uma “auto sabotagem” ou tem influência de algo?
H: É engraçado porque eu penso nisso, mesmo que tenha sido solitário ser a única menina aparecendo no cenário, já foi difícil. Você está numa van viajando por aí, não dormindo direito, fazendo shows para metade, às vezes nem metade da lotação da sala, e eu acho que minha idade realmente me ajudou, e quando eu fui envelhecendo… Acho que quando ficamos mais velhos nós começamos a pensar demais nas coisas, nós sabemos um pouco mais, nossa experiência meio que se empilha e há mais o que pensar, talvez isso signifique que há mais do que duvidar… Tem dias que eu penso “deus, estou tão feliz que existem outras meninas para me apoiarem”. Minha amiga Beth, do Best Coast… Eu mando mensagem para ela o tempo todo, apenas para ter a opinião dela em algo ou para sentir que eu tenho, não sei, uma mulher que entende. Eu queria ter uma quando era criança, mas eu também olho para trás e penso “cara, eu era tão jovem e… Eu estava verde, e eu fiz o que eu queria”. Eu acho… Eu acho que você tem que lembrar o que você sente e seguir isso, mesmo quando você envelhece e tem muito mais para prestar atenção.

E: O que você diria para quem está na batalha, quem não sabe o quanto devem continuar fazendo shows pequenos ou correndo atrás, quem está cantando no YouTube agora, ou estão tocando em uma cafeteria local, num clube… Quanto tempo você teve essa ideia de paixão até… Porque várias pessoas falam “quando você vai ter um emprego de verdade?”, especialmente os duvidosos que talvez usam esse tempo para serem grosseiros, como se você ainda não tivesse se encontrado completamente. Como você lida com isso?
H: É interessante pensar no que me faz querer continuar e o que me faz querer desistir, porque… Minha banda… Nós passamos por muita coisa doida… Nós tivemos diversos momentos difíceis e nós tivemos momentos incríveis, nós tivemos muitos sucessos e ótimas realizações mas isso não deveria ser o que faz você continuar. Eu acho… Para ser sincera, há dois anos eu estava pronta para sair [da banda]. Isso foi o que eu pensei. Eu passei por muita coisa pessoal, a banda passou por muita coisa. Duvidei que poderia compor um álbum que eu amasse tanto quanto o self-titled… E eu pensei: “eu tenho me estressado por isso por 13 anos, trabalhei muito por 13 anos, antes que eu tivesse um carro, antes de eu ter qualquer coisa que fosse minha”. A única coisa que era minha era essa música. Era a conexão que eu tinha com os meus amigos, os shows que tocávamos. Eu realmente senti que talvez fosse a hora de desistir e encontrar outras coisas que eu poderia ser boa, algo tipo começar uma família ou fazer tintas para cabelo, o que fosse. Meu pai sempre disse “se você não está feliz, apenas desista”, mas eu estive infeliz e não desisti. E eu estou muito feliz que não desisti. Acho que vou dizer ao meu filho “você deveria estar feliz”, mas agora olho para trás, até mesmo para os últimos anos, penso sobre todas as músicas que escrevemos para o álbum que está para ser lançado e apenas penso que eu me coloquei num lugar onde… Eu poderia ter desistido se eu quisesse, é uma escolha, você tem que saber que você tem uma escolha, mas eu acho que é bom para ver do que você é feito, e eu meio que tenho descoberto isso mais recentemente, eu acho. Mais agora do que na nossa carreira inteira, até o momento.

E: Esse é um ótimo conselho. Eu quero dar destaque pra isso, se você não entendeu direito e eu tivesse que escolher frases, eu escolheria “eu posso fazer coisas difíceis” e eu acho que você está certa. É uma lição muito importante que você está falando. Quando nós estamos passando por determinadas situações, talvez 99% de nós apenas desiste. E é muito fácil desistir, especialmente quando a decisão é apenas sua, mas talvez haja algo melhor se você for um pouquinho além disso.
Hayley: Sim.
E: Se superando, avançando. E também acho que você está falando sobre colocar numa balança o que você tem a perder. Qual é o risco versus a recompensa. O que eles dizem mesmo? Eles dizem que falhar não é uma opção. Mas a falha deve ser uma opção.
H: Sim, deve!
E: Não é? Pois para ter sucesso, você tem que ter a falha. Até para saber como é a sensação do sucesso.
H: Sim. Isso é muito verdade.
E: O truque é não falhar tão longe a ponto de não conseguir voltar e começar novamente.
H: Sim. Eu acho que saber que eu tinha a escolha foi provavelmente o momento mais empoderador para mim quando eu percebi isso, sabe? E até conversando com o Taylor, o meu colega de banda, e ele falando…Também ajuda o fato de ter ótimos amigos e esse tipo de apoio por perto, mas ter ele falando “você tem a escolha. Eu não ficarei chateado com você de forma alguma. Eu ainda serei seu amigo. Nós podemos escrever música para outras coisas. Ou podemos nunca mais compor música novamente”. Quando eu percebi que era minha decisão deixar para trás e tentar outra coisa ou continuar, mesmo que ainda um pouco machucada e pensar se é isso mesmo que eu quero fazer, esse foi meu momento, foi um bom momento para mim.

E: Conte-me algo que talvez os seus fãs não saibam sobre você. No que você é boa?
H: No que sou boa?
E: Fora cantar, escrever, criar músicas…
H: Então… Eu sempre digo que o Paramore é a única coisa em que sou boa, mas acredito que eu descobri quando iniciei um novo negócio… É engraçado pensar no Paramore como um negócio, pois é da minha natureza, como um hobby, uma paixão pós-escola que iniciou há 13 anos. Agora quando me vejo trabalhando na Good Dye Young, eu penso que sou boa nisso. Eu duvido muito da minha capacidade. Eu ainda duvido.

E: Então Good Dye Young é sua nova startup [empresa recém criada, ainda em fase de desenvolvimento e pesquisa de mercado]. Não é realmente uma startup , pois já tem 1 ano.
H: Tem mais ou menos 1 ano.
E: Para as pessoas que não a conhecem, o que é? Nos conte.
H: É uma empresa de coloração para cabelo, é colorido, é bastante expressivo. É algo pelo qual sou muito apaixonada. Isso se tornou parte do que as pessoas viam na minha identidade.
E: Sim, a sua pessoa, né?
H: Sim. Era mesmo, mas era muito mais pessoal para mim, pois era muito emocional. Eu pensei que queria tornar aquilo real. Eu quero empoderar as outras pessoas a usarem destes artifícios que pudemos criar como uma forma de se expressar. Talvez podemos fazer disso algo legal.
E: Sim, mas é realmente algo diferente dos cosméticos e coloração de cabelo que estão sendo comercializados por aí. Qual é a diferença?
H: Para mim, a coisa mais importante é a comunidade que está relacionada a isso. Quer dizer, os produtos são ótimos, a qualidade é ótima, mas eu sinto que a missão em torno disso é ainda mais importante, sabe? Essa missão social de dar às pessoas jovens um espaço para serem “estranhos” e tentar coisas novas de uma forma saudável. De se expressar de uma forma que nunca tentaram antes. Me deu uma saída, fora da composição, que era algo que eu precisava. Estou empolgada para ver essa comunidade crescer, foi há um ano, mas estou amando testemunhar isso. Todos os dias eu posso testemunhar a comunidade online.

E: O quanto você está “com a mão na massa” nesse seu novo lado? Quão envolvida nos negócios você está e o quanto você aprendeu?
H: Eu estou mais envolvida no negócio do que gostaria de estar. Eu aprendi muito. Muitas coisas que há alguns anos eu nem me importava em saber, pois apenas pareciam chatas, mas se tornaram como…
E: Como quais coisas?
H: Quer dizer, o processo de montar uma equipe, um laboratório, sabe? Números, muitos números! Eu odeio números. Sou música. Talvez muitos músicos sejam ótimos com números, mas eu sou compositora, eu gosto de palavras e gosto de cantar. Minha cabeça não funciona muito matematicamente, eu acredito. E isso tem sido um aprendizado para mim e acho que ainda estou tentando fazer se encaixar na minha pequena mente, mas eu descobri que me sinto muito confortável sentando na ponta de uma mesa e conversando sobre estratégia e eu amo marketing e, especialmente, marketing criativo. Nós estamos erguendo isso e é engraçado pensar que não sinto que isso seja diferente de quando estávamos tentando fazer o Paramore decolar quando éramos crianças. Era sobre como encaixar isso e aquilo e ser autênticos ao longo do processo.

E: Eu ia dizer, me corrija se eu estiver errado, mas talvez você se sinta tão confortável com essas coisas, por serem apenas uma extensão de você mesma.
H: Sim, sim! Eu acho que é isso. Gostaria que fosse assim para todo mundo que está iniciando um projeto, seja ele um negócio grande ou por uma paixão, ele deve ser um projeto sobre algo que você é apaixonado. Eu acho que não importa no que você está envolvido, sempre terá coisas que não gostará tanto quanto outras, mas, sim… Eu amo… Eu me sinto intimidada e amo isso. Amo o desafio, digo, me reunir com investidores foi bastante assustador e eu achei que não saberia o que dizer e então chegamos na primeira reunião e eu pensei “não saberei o que dizer”, mas é divertido. Eu gosto do desafio e gosto de saber que tem um momento em que vou sentar e perceber que aquilo é o que eu amo, não é muito diferente.

E: Sim e sobre tudo nós temos um pouco de receio com o que está por vir, pois não podemos enxergar. Nunca fomos até lá, então eu geralmente pergunto para as pessoas quando foi que elas realmente fizeram algo pela primeira vez. E muitas pessoas costumam dizer que não foi recentemente. E é pelo fato de ser assustador. Nós imaginamos coisas que podem dar errado ou que podem acontecer, como se pudéssemos prever.
H: Sim. E acho que a medida que vamos envelhecendo… Como quando eu era criança, eu andava com os garotos de bicicleta e não tinha medo de cair, era apenas divertido. E agora eu nem consigo andar de bicicleta sem segurar com as duas mãos. Eu acho que ao longo do tempo é preciso confiar que você tem a si mesmo e não duvidar de você. A coisa de duvidar, cara…

E: Eu ouvi um amigo meu falando que esse tipo de pensamento é ter a experiência de falhar ao contrário.
H: Sim! Sim!
E: Mas não tem sentido porque a coisa ainda não aconteceu.
H: É legal ele ter dito isso.
E: Tem algumas coisas que você deveria se preocupar, como se preparar para terremotos, sabe? Você deveria estar preparado para terremotos, mas algo que não aconteceu ainda a gente não deveria criar coisas na nossa mente até que aconteça, aí a gente pode ter medo e enfrentar isso, certo?
H: Sim, mas isso é difícil. Eu nunca sofri de ansiedade até esses últimos dois anos que eu te falei, eu pensava “e se eu nunca fizer algo que eu ame tanto quanto o self-titled? E se o nosso quarto álbum fosse o nosso último álbum?”. Teve até um momento que eu pensei que deveria ser o nosso último álbum, porque eu não queria fazer um quinto álbum que fosse ruim. Eu não queria me decepcionar mais do que decepcionar o tanto de pessoas que podem comprá-lo. Eu nunca fiz um quinto álbum antes, até eu e meus amigos escrevermos e gravarmos. É engraçado o que dizemos para nós mesmos…

E: Acho que esse é o momento que nós ficamos presos.
H: Sim, é paralisante.
E: Não pode ser paralisia por análise, tipo fazer ou não fazer, as vezes é a coisa do vaga-lume, tipo, “tô fora”. Eu vi um TED Talk muito bom. Você conhece a Elizabeth Gilbert, que escreveu Eat, Pray, Love?
H: Sim, sim!
E: Você viu o TED Talk, que ela fala que o melhor trabalho está atrás de nós?
H: Eu ouvi sobre… Tenho que assistir! Ainda não assisti.
E: Ela escreveu esse livro incrível, que virou filme e então ela ficou “ok… E agora?”
H: Poxa… Sim, isso é assustador.
E: E tem toda essa pressão, né?
H: Eu acho que a pressão que você põe em você mesmo é pior do que qualquer outra… Porque todas as vezes que nós lançamos um álbum perguntam nas entrevistas “como foi a pressão da sua gravadora para continuar o sucesso de tal álbum?”, e eu nunca entendi isso. Talvez fomos sortudos o suficiente de ter um ótimo relacionamento com a nossa gravadora. Mas a pressão veio da gente, de mim, sabe? Não querendo me decepcionar ou me assustar… É interessante.

E: É… O que você pensa quando ouve essa música [The Only Exception]?
H: (risos) Ah… Meu primeiro apartamento, eu estou no meu primeiro apartamento, tinha acabado de fazer 19 anos, de ter tido o aniversário mais triste de toda a minha vida, eu nem lembro o porquê… Ah, eu tinha acabado um relacionamento e eu odeio aniversários, então eu me acabei de chorar em casa e eu…
E: Por que você estava se lamentando?
H: (risos) Eu tinha 19 anos, é isso.
E: “Eu odeio a minha vida”.
H: (risos) Tinha saído de um ótimo álbum e tudo, mas eu tinha esse mesmo medo antes do Brand New Eyes sair, que é o álbum em que The Only Exception está… Eu tive esse mesmo medo. O RIOT! foi o nosso primeiro grande sucesso, e eu pensei… E se… Eu estava com tanta raiva… A banda… Eu só ouço muita tensão quando ouço isso. O que é engraçado, porque é uma música linda. Mas eu sinto que posso sentir no meu peito a tensão porque foi um momento muito difícil pra gente. E a música é sobre eu ter acabado de começar a namorar com o meu marido, e eu nem pensava que o amor era uma coisa, sabe? Tudo que eu pensava era no divórcio dos meus pais e eu não sei o que desencadeou tudo isso… Acho que percebendo que eu estava me apaixonando, mas eu tinha passado por um término que parecia que não acabava nunca porque estávamos numa banda juntos, meu ex e eu estávamos juntos numa banda. Então eu só sinto tensão quando ouço. É insano.

E: É… É uma música de “seguir em frente” e eu acho que, fazendo uma pesquisa, e meio que voltando no tempo, nós, os telespectadores, os fãs, podemos ver que é uma música sobre um relacionamento. Talvez a gente não soubesse o que estava acontecendo com a banda, mas eu acho que é interessante. Você já falou com outros fãs sobre como eles podem interpretar a música de formas diferentes? Porque, com certeza, a música me toca por um motivo muito diferente.
H: Eu gostaria de saber!
E: Quer ouvir uma história rápida?
H: Eu amaria!
E: Então, quando eu ouço a música, me faz lembrar do tempo que eu era muito fechado. Eu sou adotado, e durante toda a minha vida eu procurei pelos meus pais biológicos. Na verdade eu encontrei a minha mãe…
H: Quantos anos você tinha?
E: Acho que faz uns 20 anos.
H: Nossa!
E: Quando a encontrei, ela não queria ser encontrada. E isso foi inesperado. E foi muito dolorido, e eu meio que quis desistir. Tem uma frase na música que eu acho que você diz algo tipo “acordando de manhã e não saber se é real”, como é mesmo a frase?
H: Na ponte, é “eu sei que você vai partir quando acordar de manhã/Me deixe com algum tipo de prova de que isso não é um sonho”.
E: Isso! E então.. Eu era muito fechado, e depois disso eu tentei achar o meu pai, e parte de mim queria desistir da jornada, porque eu tinha me magoado bastante, sabe? Eu não queria ficar vulnerável de novo, não queria demonstrar minhas emoções. E então eventualmente eu encontrei o meu pai e foi muito melhor…
H: Nossa, eu fiquei muito aliviada quando você disse isso.
E: Nós tivemos uma reunião incrível, descobri que eu tinha irmãs… Foi incrível, mas quando eu penso sobre essa música, eu penso que as coisas são possíveis, e principalmente penso que eu não queria ficar vulnerável de novo.
H: Isso… Por que você quereria? Como você poderia depois de…

E: É difícil, é difícil… Eu li outro ótimo livro de uma das minhas escritoras favoritas, Brené Brown, você a conhece?
H: Sim, eu a amo!
E: Uma das coisas que ela disse, na verdade ela pegou da J. K. Rowling, do Harry Potter, ela disse “apenas quando nós pisarmos na escuridão poderemos achar a luz”.
H: Sim… Muito bom!
E: Muito bom, né? E outra coisa que ela disse que me pregou foi: “A profundidade que estamos dispostos a ser vulneráveis é a medida de nossa coragem.”
H: Nossa… Ela é muito boa o tempo todo…

E: Então a sua música, junto com outras palavras de sabedoria me ajudaram a passar por isso. Só quando você está disposto a ser vulnerável e entende que pode se machucar de novo, é onde a magia acontece, né?
H: Isso é… Sim… É… Isso é… Eu me sinto muito honrada de ouvir isso, cara! É insano.
E: Eu…
H: Eu não acho que eu já tenha ouvido uma história relacionada a essa música desse jeito. Obrigada por me contar isso! Foi muito legal.
E: Obrigado!
H: É… Eu entendo isso e… Eu acho.. Eu não… Sabe, é tão engraçado como a gente experimenta o amor na nossa própria vida às vezes por meio desse filtro do que nós vimos dos nossos pais ou do jeito que eles nos olharam, ou na falta disso. Foi muito difícil para eu superar, mesmo uma coisa tão simples quanto os meus pais se divorciando. Eu acho que tive um amigo que os pais não se divorciaram, e ele está na banda. E me deixa pasma quando os pais e a família dele vão ao show, eu fico tipo “como será que é?”.
E: Acho que o que você está dizendo é uma mensagem importante. Talvez tenha demorado um tempo para passar por isso, mas às vezes quando carregamos essa bagagem com a gente, nós achamos que é a nossa identidade ou como devemos agir, né?
H: Sim!
E: E não é, a gente tem que apertar o botão de recomeçar. A gente pode ser o que quiser, é mais ou menos assim, só não ligar para o que as pessoas dizem.
H: Sim!! É difícil fazer isso, na verdade. É muito difícil de chegar lá, eu ainda estou tentando e eu penso que o que eu estou aprendendo, e eu acho que Brené Brown disse algo assim, eu não tentarei reproduzir porque vou estragar, mas é sobre algo ser da sua história não significa que isso lhe pertence, isso é algo que estou constantemente lutando contra. Porque ou na banda ou em outras partes da minha vida pessoal, eu sinto muitas coisas que por muito tempo eu considerei como traições, e é difícil ficar calmo e suave quando você tem todas essas coisas. Você tem vontade de colocar escudos, como você disse, que era reservado, mas eu acho que é muito glorioso estar calmo.

E: Mas isso faz parte! Na vida, quando nós finalmente entendemos que tem horas boas e horas ruins… Ou você vive, ou você se esconde.
H: Sim, certo!
E: Quando nós ficamos confortáveis, nós ficamos “ok, pode vir”. O que é o pior que pode acontecer? Aí eu penso que é aí que começamos a viver de verdade, a vida que temos um potencial para viver, sabe?
H: Cara, isso é bom. Podemos fazer isso uma vez por semana?
E: Sim!
H: Eu preciso de um segundo terapeuta! (risos)

E: Nos dê algum último conselho para jovens empreendedores, pessoas que estão na batalha, te admiram e amam o que você já fez, mas também estão fazendo outras coisas… São engenheiros, são programadores, são artistas, ou… Sabe, eles amam matemática, seja lá o que fazem… Qual o seu conselho para os que estão fazendo coisas legais que podem não dar certo?
H: O que pode não dar certo?
E: Bem… esse é o ponto de partida, né?
H: Mas o que seria “não dar certo”?
E: Sim, talvez possamos definir isso também. Mas é tudo um experimento, quando começamos algo novo, não sabemos no que vai dar.
H: Sim, verdade.
H: Se fosse previsível, todo mundo faria também…
H: Sim
E: Certo?
H: Pessoalmente, eu acho que isso não tem nem a ver com a indústria musical, mas sim com a vida. Todas as vezes que não segui minha intuição, eu paguei por isso. Eu tento prestar muita atenção porque penso que nós sabemos quem somos, conhecemos nossas paixões e o que pode nos colocar em perigo, é instintivo. Sabemos do que somos capazes. Às vezes acho que mesmo quando sabemos que não somos capazes, sabemos a hora de tentar, sabe? Acho que esse é o perigo a qual me referi. Para mim, seguir minha intuição, mesmo quando não funcionou do jeito que eu queria, sempre valeu a pena. E sabe, esse é o 5º álbum do Paramore e já somos uma banda desde meus 13 anos. Eu já estou com 28 e continuo viva. Passei por muita dor, mas continuo viva. Abri uma empresa, foi assustador, mas continuo viva. Acho que isso é porque eu valorizo minha intuição. Então, sim, eu diria que a gente nunca sabe no que vai dar, mas sabemos se vale a pena persistir e, se não souber, você vai descobrir quando for a hora de testar algo diferente, mas isso não vai te matar.

Em breve disponibilizaremos o vídeo da entrevista devidamente legendado!

Tradução e adaptação: equipe do Paramore BR

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