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Entrevista da Hayley na edição deste mês da revista Rock Sound

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“A estrela do Paramore que inspirou toda uma nova geração continua forte” é o título da entrevista concedida por Hayley à Rock Sound Magazine deste mês (7), que também traz a vocalista na capa.

(Clique aqui e veja o photoshoot completo da foto acima, por Lindsey Byrnes)

Confira abaixo a tradução da conversa que tem como assunto mulheres no cenário do rock atual, sua influência e mais!

A ESTRELA DO PARAMORE QUE INSPIROU TODA UMA NOVA GERAÇÃO CONTINUA FORTE

Quando falamos de figuras importantes no mundo rock, é difícil achar uma pessoa mais adequada para o termo que Hayley Williams. Por mais de uma década, a vocalista de 27 anos possui uma das vozes mais fortes, tanto literalmente quanto figurativamente. Enquanto o sucesso do Paramore é garantido – quatro álbuns e diversos milhões de vendas, numerosas turnês em arenas e atração principal de múltiplos festivais que levaram a banda para o topo – é o que Hayley é responsável fora da música que ela e sua banda criam que a vemos no topo Rock Sound 50. Desde o lançamento do álbum de estreia do grupo, ‘All We Know Is Falling’ 11 anos atrás, a influência individual de Hayley cresceu tão rapidamente quanto a imagem do Paramore. Inspirando uma geração inteira de jovens de todos os gêneros, sexualidades, cores e crenças, há muito tempo a sua mensagem tem sido apenas uma; de abraçar quem você é de verdade e não ter medo de se destacar em um mundo que costuma desdenhar de quem ousa ser diferente. Possivelmente mais importante, ela mudou a forma como a comunidade rock vê as mulheres, expondo quase sozinha o sexismo e misoginia e instigando confiança e convicção em milhões de mulheres jovens – algumas dessas ocupam o mesmo gráfico que ela – que elas podem também viver os seus sonhos, livres de qualquer preconceito ou idiotice mesquinha. Com a sua recém lançada empresa de tinta de cabelo, goodDYEYoung, dando a pessoas uma plataforma ainda maior de expressão e individualidade, a sua influência tanto musicalmente quanto culturalmente significou que, para nós, só poderia haver um vencedor. Nessa entrevista exclusiva com ela própria, nós fomos até o fundo do que significa ser influente em 2016, suas experiências de crescer em um mundo dominado por homens e, mais importante, o que o futuro reserva para Hayley e sua banda…

PARABÉNS POR CHEGAR AO TOPO DO ROCK SOUND 50! COMO VOCÊ SE SENTE POR SER A PESSOA MAIS INFLUENTE NO ROCK?

“Ah, cara… É incrível! E eu não falo só por falar. Eu estive a frente dessa banda por 12 anos, mas ganhar qualquer tipo de prêmio como pessoa e vocalista, e saber que as pessoas foram impactadas pelas coisas que eu fiz como um ser humano é incrível. Eu estou honrada.”

O QUE INFLUÊNCIA SIGNIFICA PARA VOCÊ, E VOCÊ AINDA ACHA ESTRANHO QUE QUALQUER UM CONSIDERARIA VOCÊ INFLUENTE?

“Sinceramente, eu acho. O que é louco é que as pessoas dizem que você as influenciou, ou que você é a heroína delas, e você instantaneamente vai para lugares na sua mente onde você se vê exatamente como elas. Eu me conheço, e sei que sou uma pessoa com problemas igual a qualquer outro. Eu ainda tenho coisas que luto na minha mente e em meu coração. Fico lisonjeada de saber que consigo me conectar com as pessoas dessa forma – mesmo trazendo tanta pressão – mas vale a pena por essa conexão e o senso do real.”

VOCÊ SE LEMBRA DA PRIMEIRA VEZ QUE ALGUÉM DE CHAMOU DE INSPIRADORA OU INFLUENTE, E COMO ISSO FEZ VOCÊ SE SENTIR?

“Na época do MySpace, 11 ou 12 anos atrás, nós respondíamos todas as mensagens que recebíamos. Quando as coisas começaram a crescer e as mensagens chegaram mais rápido, isso obviamente ficou mais difícil, mas eu me lembro do início. Algumas pessoas se lesionavam, outros lidavam com problemas psicológicos, mas eles nos disseram que nossa música, e em alguns casos as minhas letras, os ajudavam a lidar com seus problemas e os superaram. Aquilo era bem pesado. Ver a letra da nossa música ‘Emergency’ – a parte que diz “There scars they will not fade” (as cicatrizes não irão sumir) – tatuado no pulso de uma garota com cicatrizes de cortes quebrou o meu coração. Eu nunca lidei com automutilação em toda a minha vida. Fiquei deprimida e tive problemas que pensei que nunca iria resolver, mas esse foi um nível totalmente diferente. Ver alguém dizer que eles passaram esse momento da vida e marcar isso com as palavras que eu escrevi era bem pesado.”

TESTEMUNHAR ESSE TIPO DE IMPACTO FOI ALGO QUE VOCÊ CONSEGUIU SE ACOSTUMAR?

“Eu não acho que isso seja possível. Isso nunca deixa de ser gratificante. Nós crescemos com muitos fãs, em certo ponto. Eu acabei de encontrar com uma garota que se chama Grace, em Nashville, que eu conheço desde que tinha 16 anos. Ela e seus amigos vieram para um dos nossos primeiros shows em Buffalo, Nova Iorque, e tivemos uma conexão desde então. Nós temos a mesma idade, então fizemos várias coisas ao mesmo tempo e meio que dividimos nosso caminho para a vida adulta. Eu a vi algumas vezes por ano em shows e ela me dizia todas essas coisas da sua vida – seu primeiro emprego, seu primeiro namorado, seu primeiro apartamento – e para mim, isso era tão significativo e impactante quanto qualquer outra coisa. Realmente significa o mundo para mim dividir essa conexão com outras pessoas.”

PROVAVELMENTE É MAIS FÁCIL PARA AS PESSOAS ESQUECEREM O QUÃO JOVEM VOCÊ É GRAÇAS AO PARAMORE ESTAR NA MÍDIA A MAIS DE UMA DÉCADA. ESSAS RESPONSABILIDADES E EXPERIÊNCIAS QUE VOCÊ TEVE QUE CRESCER LIDANDO DESDE A ADOLESCÊNCIA, JÁ QUE MUITOS LIDAVAM COM VOCÊ COMO UMA ADULTA…

“Absolutamente. Eu tive um perfil de banda no MySpace antes mesmo de ter um perfil pessoal, e minha primeiro Warped Tour foi quando eu toquei lá. Todas essas experiências que eu esperava ter como uma garota do ensino médio, acabei tendo como uma pessoa com muito mais responsabilidade. É definitivamente estranho, mas também tem seus pontos positivos. Quando se tem aquela idade você não vê o que está fazendo como um trabalho, e sim um hobby que você faz o tempo todo com seus amigos, mas a certo ponto a realidade chega até você. Eu não tive uma vida normal de ensino médio e várias pessoas me perguntavam se eu sentia que estava perdendo alguma coisa, mas, honestamente, eu nunca senti que estava. Eu conheci todas essas pessoas maravilhosas da minha idade ao redor do mundo e estava trabalhando em coisas que me orgulhavam – eu não entendia como isso poderia ser considerado que eu estava perdendo alguma coisa.”

VOCÊ TEVE QUE APRENDER LIÇÕES E ERRAR AO CRESCER EM PÚBLICO. O QUÃO DESAFIADOR ISSO TEM SIDO?

“Ao ser uma escritora, especialmente, é difícil decidir o que vai embora e o que fica, e com o Paramore, tipicamente, muitas coisas têm de ficar de fora. Eu guardo algumas coisas no meu coração quase como um combustível, mas na maior parte todos os meus erros e todas as coisas que eu me envergonhava, e toda a dor que eu senti ou possa ter causado… isso acaba saindo. É difícil se abrir para o mundo e ainda assim manter segredos. Eu aprendi isso da forma difícil porque tem algumas coisas que eu vivenciei, e algumas coisas que eu falei sobre abertamente, e então tive que me tocar, tipo “Oh meu deus, estou falando sobre a vida real aqui, isso não é um jogo”. E normalmente estou falando sobre pessoas reais e coisas reais que aconteceram, e algumas vezes é difícil manter isso em segredo. Ter o seu diário lido pelo mundo é difícil, mas também me permitiu manter os pés no chão e ser realista. Eu espero que consiga inspirar pessoas a relatar desses sentimentos e experiências, e que isso, de alguma forma, consiga ajuda-los a lidar melhor com as coisas por ter me visto lutando com elas também. Eu espero que, ao me ver aprendendo lições publicamente, isso ajude os outros a passar pelas mesmas coisas.”

EM TERMOS DE PERCEPÇÃO DE MULHERES NO CENÁRIO ROCK, VOCÊ TEM UM IMPACTO AINDA MAIOR DO QUE QUALQUER OUTRA PESSOA NA DÉCADA. ESSA INFLUÊNCIA É ALGO QUE VOCÊ SE DEIXA TER CONHECIMENTO?

“De certo jeito e ponto. É incrível, obviamente, mas também é difícil de aceitar esse tipo de crédito. Eu me lembro de ler uma entrevista com Lynn [Gunn] do PVRIS em que ela estava falando sobre ir a um show do Paramore quando criança, e depois disso, decidiu que estar em uma banda era o que ela queria fazer, e me ver fez ela acreditar que ela realmente poderia fazer o mesmo. É um elogio incrível e um sentimento melhor ainda porque é algo que eu me relaciono totalmente. Eu me lembro de ver bandas como No Doubt e Garbage quando estava crescendo – bandas com mulheres fortes e confiantes – e sentir que essas pessoas tinham mais em comum comigo do que qualquer outro que eu conhecia na escola. Eu olhava para eles e pensava, “eu posso fazer isso, eu tenho isso em mim”. Ser capaz de causar esse tipo de impacto em outra pessoa é incrível, especialmente porque teve um tempo em que quase não víamos bandas com vocalistas mulheres, ou até mesmo membros de banda femininos. Pode parecer absurdo, mas mulheres no cenário rock é algo relativamente novo. Foi apenas nos últimos anos que as pessoas pararam de ver mulheres no palco em uma banda de rock como algo diferente.”

CRESCER EM UM CENÁRIO DOMINADO POR HOMENS FOI ALGO DIFÍCIL?

“Eu não acho que eu percebi isso até ver o quão solitária eu me sentia quando adolescente. Eu cresci sem garotas ao meu redor em termos de companhia ou amizade – eu tive que correr bastante atrás disso quando passei dos 20 – e eu tive uma visão pouco saudável dos meus relacionamentos com garotas. Eu nunca tive a chance de ver minhas amigas todo dia na escola, ou trabalhar em um emprego cercado de outras mulheres. Mas se as pessoas acreditam que qualquer coisa que eu fiz ou conquistei mudou essa circunstância para outros, é incrível. Eu agradeço a qualquer um que acha isso.”

LYNN GUNN E JENNA MCDOUGALL RECENTEMENTE FALARAM O QUÃO POSITIVO PARA AMBAS É TER A COMPANHIA UMA DA OUTRA NA ESTRADA E A IMPORTÂNCIA DE TER ESSE TIPO DE AMIZADE EM TURNÊS. COMO VOCÊ SE SENTE AO VÊ-LAS TENDO ALGO QUE VOCÊ NUNCA PODE TER?

“É algo incrível de ver, e também é incrível saber o momento que elas dividem. Há muitas mulheres indo bem, fazendo arte e tendo reconhecimento totalmente merecido. Eu não gosto de pensar que sou responsável por qualquer outra coisa a não ser as músicas do Paramore, mas se essas pessoas tiraram inspiração de algo que fiz é incrível. O que é mais legal ainda é que agora irá ter uma geração de jovens mulheres que estão sendo inspiradas por Lynn e Jenna. Quando eu estava começando em uma banda tive que tirar inspiração de homens, porque não havia mulheres o suficiente ao redor. Eu tive que observar os músicos homens que eu admirava e pensava, ‘acho que consigo fazer isso tão bem quanto eles’, mas tive que dar o meu próprio jeito para me relacionar a eles. Há muitas mulheres jovens agora que possuem muito mais para se inspirarem e isso só pode ser algo positivo.”

LONGE DA MÚSICA, VOCÊ TAMBÉM TEM SIDO MUITO INFLUENTE EM TEMOS DE MODA E ESTILO, COMBINADO COM UM FORTE SENSO DE INDIVIDUALISMO…

“Absolutamente, e eu estou muito orgulhosa que ultrapassei as inseguranças que já tive um dia. Parte de crescer rodeada de homens significava que – certamente no início do Paramore – eu quase tinha medo de ser uma garota. Eu vestia a mesma roupa que os caras, ou o mesmo estilo de sapatos… Eu ficava desconfortável com a noção de mudar. Eu sentia que qualquer tentativa de parecer uma garota iria resultar nas pessoas não me levando a sério, e isso era uma perspectiva problemática – muito ruim para uma pessoa jovem. Eu me lembro de ter uma conversa com Josh [Farro, ex guitarrista do Paramore] na Warped Tour de 2006 e ele falou tipo, ‘Por que você não usa nenhuma dessas roupas loucas que você costumava usar quando éramos mais novos?’ E eu me lembro de ficar muito defensiva, mas quando cheguei em casa e comecei a pensar decidi que era uma pergunta justa. Eu fiz uma decisão naquele ponto de começar a ser mais expressiva, e um ano depois ‘Riot!’ saiu e eu estava usando maquiagem louca e tinha três tipos de cores no meu cabelo, e usava meia calça que comprei no Japão… Eu fiquei totalmente diferente. Mas isso já faz quase 10 anos agora – as pessoas precisam se lembrar que isso foi antes de Katy Perry e Lady Gaga e todas essas gigantes coloridas da música pop. Quando eu saí na MTV estava parecendo algo estranho, mas eu realmente precisava me expressar naquele ponto. Quando eu comecei a ver outras garotas nos shows que pintaram o cabelo e essas coisas, isso significou muito para mim. Isso fez eu me sentir muito melhor sobre ser eu mesma, e não me preocupar se alguém não iria me levar a sério por eu ter a aparência do meu jeito. Fico muito grata por ter superado isso. Eu nunca iria querer que alguém sinta que não pode ser quem eles são, e é por isso que fazer algo como o goodDYEyoung [a empresa recém lançada de Hayley de tinta de cabelo] foi tão importante.”

COM ISSO EM MENTE, A RECEPÇÃO DA EMPRESA DEVE TER SIDO MUITO ESPECIAL PARA VOCÊ…

“Realmente tem sido, e honestamente nunca pensei que ela seria tão bem recebida tão rapidamente. Quando eu era nova e ia à farmácia, eu esperava que eles tivessem tinta vermelha que parecesse um pouco rosa, ou uma vibe um pouco laranja, mas nunca ficava dessa forma. Tem sido ótimo, na verdade. Agora, minha avó tem cabelo lavanda e estou vendo crianças que mal tem idade o suficiente para se vestir sozinhos apontando para tintas de cabelo em lojas, e é muito legal ver esse tipo de impressão se tornando muito mais aceita. goodDYEyoung é sobre construir uma comunidade. Eu quero ter uma conversa com as pessoas da mesma forma que fiz com o Paramore. Eu quero que a goodDYEyoung represente positividade e confiança. Eu quero que isso seja sobre empoderar pessoas a ser quem elas são de verdade e se expressar de uma forma saudável, mas ao mesmo tempo, aceitar pessoas da forma que são e do jeito que quiserem ser.”

ESSA CONFIANÇA EM AUTO-EXPRESSÃO SE ESTENDE PARA VOCÊ? NESSE MOMENTO, VOCÊ PODE SE CONSIDERAR CERCADA DE POSITIVIDADE E CONFIANÇA?

“Honestamente, certamente onde o Paramore está agora, tem sido um ano difícil. O ciclo do último álbum foi o mais divertido que tive a minha vida inteira e eu sinto que aprendi muito sobre mim mesma, meus amigos e a música, mas o que realmente aprendi é que você só pode ficar no alto por certo período de tempo. Esse senso de nostalgia pode servir de gasolina por algum tempo, mas não para sempre. Muitas coisas boas aconteceram recentemente – me casar, especialmente – mas também, muitas coisas complicadas. É importante ficar centrada e entender para o que você está vivendo, e se agarrar ao que você é. Em qualquer momento da vida algo pode ser ganhado ou perdido em um instante, e você não pode se apoiar em muitas coisas do lado de fora para se manter feliz. Você tem que buscar a verdade, e agora eu estou fazendo isso. A vida pode ser bem louca às vezes, mas há luz no fim do túnel, e nós voltaremos no final disso. A vida é uma jornada para aprender seu lugar e seu propósito, e descobrir o que realmente vale a pena para você e seguir isso com tudo o que você tem. Isso é algo que eu espero que ninguém – incluindo eu mesma – perca de vista.”

Tradução e adaptação: equipe do Paramore BR

 

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